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6 grandes guerreiras (quase) desconhecidas

(William Santiago/Superinteressante)

A celta irredutível
Boadiceia – séc. 1
Reuniu 100 mil celtas e derrotou Nero

Boadiceia era casada com Prasutagos, rei celta do século 1 d.C., e ficou viúva ainda jovem. Um pouco antes de morrer, Prasutagos estabeleceu que seus domínios na Grã-Bretanha fossem repartidos entre a esposa, suas filhas e o imperador romano Nero, então um aliado. Roma não concordou com essa fragmentação: queria todos os territórios. Tão logo o rei celta morreu, Nero invadiu as terras e ordenou que Boadiceia e suas duas filhas fossem torturadas, estupradas e exiladas. Boadiceia se calou por dois anos. O silêncio só foi rompido pela vingança. Por volta de 60 d.C., a rainha havia entrado em contato com líderes tribais e organizado um exército com quase 100 mil soldados. À frente desses guerreiros, da noite para o dia, ela derrubou a sede do governo romano e, em alguns meses, os rebeldes – sob ordens de não fazerem prisioneiros – já tinham matado mais de 70 mil romanos. Acuado, Nero se viu obrigado a abandonar o território. O destino de Boadiceia depois dessa sangrenta batalha é incerto. Historiadores sugerem que suas filhas tenham sido mortas pelos romanos, e que a rainha, deprimida, tenha se matado logo após a vitória.

 

A faraó do êxodo
Ah-hotep 1ª – séc. 16 a.C.
Retomou o Delta do Nilo – num episódio que pode ter inspirado a Bíblia

Quando Ah-hotep nasceu, no início dos anos 1500 a.C., o Egito não era mais aquele. As terras mais férteis do reino, no Delta do Nilo, estavam ocupadas pelos Hyksos – povos de Canaã, a futura Terra Prometida. Seu marido, o faraó Taá 2o, morreu em combate contra os Hyksos. Ah-hotep, então, assumiu o trono – e o comando das batalhas contra os invasores. Com isso, treinou seus dois filhos, Kamose e Ahmose, que se tornariam faraós e acabariam expulsando de vez os cananeus. O episódio, segundo teorias pouco ortodoxas, teria inspirado a narrativa do Êxodo bíblico, na qual os israelitas, um povo vindo de Canaã, abandona o Egito rumo à terra natal depois de sofrer hostilidades, igual os Hyksos. Seja como for, o fato é que Ah-hotep viveu dias de glória como guerreira. Seu túmulo, recheado de armas, e inscrições encontradas no templo de Amon-Rá atestam que ela morreu como heroína militar.

 

A rainha pirata
Grace O’Malley – séc. 16
Liderou uma frota pirata e negociou com Elizabeth 1ª

Aos 13 anos, em 1543, Grace tinha apenas um sonho: trabalhar com navios. Filha de um rico comerciante marítimo e governante do reino de Umail, a menina ruiva cortou seus longos cabelos e, por um ou dois anos, se misturou à tripulação de uma das embarcações do clã O¿’Malley, atendendo pelo apelido de “Careca”. A vida no mar provocou uma revolução em Grace. Quando seu pai morreu, deixou um testamento indicando o desejo de que a filha administrasse o reino e a frota comercial da família: um pedido que ela atendeu… em partes. Grace dispensou a maioria dos marinheiros e decidiu dedicar todos os navios sob seu comando à pirataria. Em poucos meses, a força dessa frota já era temida por toda a costa irlandesa. Barcos que se atreviam a cruzar seus limites eram saqueados e tomados – e os capitães dos que não se atreviam eram sujeitos a “taxas” astronômicas para passagens seguras. Quando O’Malley saiu vitoriosa de um combate contra a frota inglesa, a rainha Elizabeth 1a reconheceu sua força e decidiu entrar em contato. Grace e Elizabeth trocaram cartas misteriosas, e se encontraram alguns meses depois. Não se sabe ao certo qual foi o tom dessa conversa, mas fato é que Grace negociou a soltura de seu irmão mais novo – previamente capturado pelos ingleses -, readquiriu algumas de suas cargas confiscadas e manteve o direito de “exercer” em paz a pirataria em mares irlandeses, contanto que deixasse os navios ingleses em paz.

 

A defensora de Palmares
Dandara – séc. 17
Segurou o quilombo e treinou ex-escravos

Dandara é mais conhecida como “a esposa de Zumbi dos Palmares”, mas sua vida – cercada de incertezas históricas – é muito maior do que isso. Pesquisadores acreditam que ela tenha nascido em um navio negreiro e se estabelecido no Quilombo dos Palmares ainda criança. Lá, foi treinada na luta com armas e capoeira. Ainda adolescente, Dandara foi escolhida para liderar a ala feminina de defesa do quilombo. Seu prestígio acabou superando até mesmo o de muitos homens. Assim, acabou se tornando responsável pelo treinamento de crianças e mulheres, que deveriam conter as inúmeras tentativas de invasão a Palmares. Foi a ferocidade de Dandara que conquistou Zumbi. Para ela, a rendição e a negociação “pacífica” não eram opção – a guerreira jamais se curvou às negociações do governo português, e preferia viver em guerra do que fora de Palmares, sob risco de ser escravizada. Em fevereiro de 1694, acuados pelos portugueses, Dandara e dezenas de outros quilombolas foram mortos – dois anos antes de Zumbi. A versão mais corrente diz que ela foi executada na prisão, antes mesmo do julgamento. Mas muitos defendem que Dandara tenha pulado de um penhasco, preferindo o suicídio à prisão.

 

A apache piedosa
Lozen – séc. 19
Liderou os apaches contra os brancos

Lozen e seu irmão, o chefe Victorio*, foram guerreiros apaches. Quando a tribo de ambos foi forçada a viver em uma reserva, longe de sua terra natal, em 1870, Lozen propôs a organização de uma resistência indígena, que em pouco tempo foi devastada pelo exército americano. Ainda assim, entre 1876 e 1877, os dois irmãos lideraram uma ofensiva contra os administradores da reserva, invadindo terras e incendiando propriedades no Arizona e no Novo México. Victorio era um guerreiro impiedoso, mas Lozen conseguiu convencer o irmão a poupar a vida de crianças, mulheres e idosos durante as ofensivas. Lozen também teria se oferecido para conduzir essas pessoas a áreas seguras, onde elas recebiam água, comida e curativos de outros apaches. O comportamento misericordioso foi um dos principais motivos para que os americanos reconhecessem os direitos dos nativos da região.

*Muitos índios célebres eram conhecidos por seus nomes espanhóis, como Jerônimo(oooo), porque o oeste dos EUA foi território mexicano até a década de 1840.

 

Estrategista persa
Artemísia 1ª – séc. 5 a.C.
Desafiou Xerxes e derrotou os gregos

Nomeada em homenagem à deusa grega da caça, Ártemis, ela governou Halicarnasso, na atual Turquia, no século 5 a.C. Militarmente treinada desde a infância, Artemísia foi uma brilhante comandante naval, e uma das mais fortes aliadas de Xerxes, o rei da Pérsia, durante suas invasões às cidades-estados gregas. Seus maiores feitos foram registrados na Batalha de Salamina. Durante o conflito, ela desaconselhou Xerxes a enfrentar as embarcações gregas de frente, porque estas seriam muito superiores às persas. Xerxes a ignorou. A comandante, então, tomou uma decisão extrema: colidiu alguns de seus próprios barcos contra os de Xerxes, para que os gregos pensassem que ela era uma aliada. O plano mirabolante funcionou: batedores gregos ordenaram que seus navios recuassem, e a frota do rei persa conseguiu se aproximar. Até onde vão os registros, Xerxes – por fim derrotado – levou anos para descobrir que Artemísia, sua aliada, foi responsável pelo naufrágio de seus navios. A ousadia da comandante teve um preço alto sobre sua reputação. Não há muitos registros sobre seus últimos anos, e é provável que ela tenha morrido em combate. Contudo, registros anônimos do século 8 defendem que Artemísia se jogou de um penhasco depois de uma desilusão amorosa. Difícil de acreditar.

 

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