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‘Dunkirk’ e os dilemas filosóficos de Christopher Nolan

 (Foto: Reprodução)

 

O épico de guerra Dunkirk, que estreia nesta quinta (27), nasceu fadado ao sucesso. Críticos já apontam o longa como o possível responsável por dar o primeiro Oscar de melhor diretor a Christopher Nolan. A revista Variety garantiu se tratar de “tudo o que se espera ver em um filme de Nolan”; para o The Atlantic, o trabalho é uma obra de arte e revela o “experimento mais radical” do diretor desde Amnésia (2000).

Sem a complexidade científica de Interestelar (2014), os saltos no subconsciente de A Origem (2010) e a insanidade psicológica da trilogia de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2005 - 2012), Nolan deu sua própria visão sobre a Batalha de Dunquerque — um daqueles episódios decisivos para o rumo da história mas que acabaram perdidos no tempo, como o caso dos espiões de Lisboa.

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Em 1940, nove meses depois do início da Segunda Guerra Mundial, quase 500 mil soldados ingleses foram cercados nas areias de Dunquerque, no norte da França, pela tropas alemãs. A única saída possível seria pelo mar.

O problema é que, apesar de estarem a apenas alguns quilômetros de casa, a praia era rasa demais para que navios de guerra viessem ao seu resgate — eles perceberam isso depois de, pelo menos, quatro embarcações afundarem. A solução foi convocar a própria população da Inglaterra para que atravessasse o Canal da Mancha e resgatasse os soldados com seus pequenos barcos.

O mérito de Nolan está em oferecer uma visão completa do conflito pelo olhos de personagens que estão em terra, água e ar, dando igual peso seja para a atuação de novatos, como o cantor Harry Styles (ex-One Direction), e veteranos, como Tom Hardy.

Além disso, a preocupação em usar a menor quantidade possível de efeitos especiais dá uma veracidade pouco vista nos filmes de Hollywood — alô, Michael Bay. Não à toa, Nolan gastou 5 milhões de dólares em réplicas vintage de aviões alemães só para destruí-los no set.

 (Foto: Reprodução)

 

Dilemas morais
Se por um lado Dunkirk não conta com as piruetas de roteiro que tornaram as obras anteriores de Nolan aclamadas, o diretor e roteirista garantiu que complexas questões morais se instalassem em sua nova obra.

Uma delas parece permear toda a história em diferentes escalas: a vida de uma pessoa vale mais do que a de várias? Em várias situações o problema se apresenta sem oferecer uma resposta óbvia.

Trata-se de uma versão militar para o famoso dilema do trem: uma locomotiva descontrolada vai na direção de cinco pessoas desavisadas, você pode salvá-las jogando alguém nos trilhos, fazendo com que o trem pare. O que você faz?

Nos estudo sobre moralidade, são classificadas como consequencialistas as pessoas que consideram uma boa decisão aquela que beneficiará o maior número de pessoas. Já os deontologistas são aquele que acreditam que existem decisões que não devem ser tomadas, mesmo que isso signifique salvar outras vidas.

Pesquisadores da Universidade de Oxford e de Cornell constataram que, pelo menos, 70% das pessoas não jogaria alguém no trilho. Eles também investigaram o porquê da preferência pelo modo deontologista de pensar e publicaram os resultados no periódico Journal of Experimental Psychology.

Imagine um amigo seu considerando seriamente te sacrificar para salvar outras vidas contra a sua vontade. Dói, né? É por isso que aqueles que tomaram decisões deontológicas, no estudo, eram os preferidos dos 2400 voluntários entrevistados, o que sugere que esse tipo de opção moral tenha sido favorecida ao longo do tempo.

Se você é um consequecialista e toparia sacrificar alguém por um bem maior, imagine que a única pessoa disponível para ser jogada no trilho é alguém que você ama. É exatamente esse tipo de dilema que torna o roteiro de Nolan tão complexo.

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