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É possível morrer de tanto rir?

Entre gritos e berros, uma outra expressão idiomática ganhou força nos últimos tempos com a internet: morta. Por causa dela, “matar alguém” de rir nem é mais tão difícil assim. Basta um gif utilizado no momento certo e voilà – tá lá mais um corpo estendido no chão. O que nem todo mundo sabe é que isso não é só um exagero que as pessoas adoram repetir. Embora aconteça com frequência infinitamente menor do que dizem as redes sociais, há evidências científicas de que sim, a causa mortis de alguém pode ser mesmo uma gargalhada bem dada. Tanto que existe até nome formal para essa modalidade estranha de óbito: hilaridade fatal.

Ok, ninguém morre exatamente por causa de uma piada em si, mas sim devido a algum processo que ela desencadeia no corpo. Ter um acesso de riso intenso demais pode servir para desregular várias funções que, se já estiverem andando meio mal das pernas, podem parar totalmente – por tempo suficiente para fazer alguém bater as botas.

Quando damos uma gargalhada, nossa respiração é interrompida parcialmente. A entrada de ar na boca acontece de maneira irregular, o que pode prejudicar a oxigenação do sangue se acontecer por longos períodos. Quem sofre de insuficiência respiratória ou crises de asma pode ser duramente afetado por essa alteração na dinâmica da respiração. Se a pessoa não parar logo de rir e tomar um fôlego, o cenário final pode ser uma arritmia, o descompasso dos batimentos cardíacos.

Rir demais pode pressionar a região do crânio e causar o rompimento de um aneurisma, e, por tabela, um acidente vascular cerebral (AVC). Além disso, uma crise de riso pode aumentar a pressão na região peitoral, o que prejudica a circulação sanguínea – que, vejam só, é bem onde bate o seu coração. Pessoas com insuficiência cardíaca, dessa forma, também têm risco aumentado.

Essa foi a situação de um dos casos mais famosos, o do inglês Alex Mitchell. O trabalhador do setor de construção civil morreu em 1975, após rir por 25 minutos de uma esquete de seu programa de TV favorito, a série humorística The Goodies. A cena letal foi nada menos que um escocês lutando contra uma linguiça gigante, utilizando como arma a sua gaita de foles.

Sua neta, Lisa Cooke, chegou a sofrer do mesmo mal do avô em 2012, mas se safou por ter sido socorrida a tempo pelo marido. Segundo especialistas, o motivo para crises de riso mortais na família é a ocorrência de um distúrbio genético muitíssimo raro. A chamada “síndrome do QT longo” faz que situações muito cansativas ou cheias de adrenalina causem arritmias cardíacas graves, mesmo em pessoas saudáveis.

Mas olhando para a história é que conseguimos encontrar os casos mais bizarros. O mais antigo que se tem notícia envolve Zeuxis, um pintor grego que viveu no século 5 a.C. Reza a lenda que ele morreu rindo enquanto fazia um quadro de Afrodite, deusa grega do amor. Tudo por conta da audácia da mulher que encomendou a obra. A proposta feita era de fato um tanto pretensiosa: posar ela própria para o artista e inspirar sua representação da divindade. Sem acreditar no que estava ouvindo, Zeuxis riu por minutos sem parar – e morreu com o trabalho inacabado por falta de ar.

Da Grécia antiga, mais precisamente do século 3.a.C., vem outra boa história. Filósofo por profissão, Crísipo de Solis teve a brilhante ideia de embebedar seu burrinho de estimação com vinho. A cena cômica que resultou da brincadeira foi extremamente engraçada para o dono – que não aguentou quando o bicho tentou comer uns figos e riu até morrer.

A morte pelo riso foi também o cruel destino do rei português Martim de Aragão, em 1410. Culpa da mistura entre uma refeição que não caiu muito bem e uma crise de riso incontrolável. E no ambiente de realeza aconteceu também a morte mais irônica da lista. O prêmio pertence a Thomas Urquhart, intelectual escocês que partiu desta para uma melhor em 1660. Ele foi incapaz de resistir à piada mais engraçada que ouviu na vida: Carlos II tinha sido eleito o novo rei da Inglaterra. Nada como o refinado senso de humor britânico, não é mesmo?

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