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Não tenho mais idade de esconder as minhas loucuras


Eu já estava na faculdade, no quarto ou quinto semestre, se não me engano. Havia decidido fazer moda, era o que eu sempre quis. E não me arrependo, mesmo que tenha achado o curso um pouco fraco em alguns pontos, principalmente na visão fechada de alguns professores e colegas de sala – nunca cheguei a ter amigos na faculdade, no máximo colegas. Acontece que desde pequena, eu sempre havia visto a moda de um jeito diferente; sem dono, sem tantas regras, sem estereótipos tão marcados. Para mim, a moda era, e continua sendo, para todos; não é uma peça de luxo que faz alguém ser uma pessoa elegante, mas a segurança e alegria com que ela usa essa peça. A delicadeza e verdade ao vestir, a sutileza e confiança no olhar, são esses detalhes que fazem alguém brilhar, e a roupa, suavemente, se tornar somente um complemento desse brilho. Enfim, tenho muitos pensamentos atípicos sobre a conduta da moda, mas um dia, com calma, a gente conversa sobre isso.

Com a idade fui aprendendo a desatar as mãos das obrigações. No sentido das regras que a sociedade cobra da gente, mesmo. Sempre que podia me desdobrava para arranjar um tempinho e viajar com os vidros abertos em plena segunda-feira à tarde, me guiar pela orla enquanto caminhava rente ao mar, tomar uma água de coco e rir, pois, estou andando por quilômetros com o coco na mão e ainda não achei um lixeiro por perto. Durante a faculdade, mesmo sendo a mesma mulher reservada de sempre, fui me descobrindo, colecionando viagens, conhecendo pessoas no trabalho – na época eu era assistente de uma estilista famosa – ou nas festas da faculdade – na verdade, eu nunca fui muito de ir às festas da faculdade, nem de gostar festas badaladas, bebidas e agito. Troco qualquer festa pela minha casa ou pelo meu trabalho. Mas, com o passar do tempo, além de aprender que o que gosto mesmo é ficar em casa, trabalhar com o que amo e viajar, fui ganhando segurança para aceitar que eu também gostava de paixões com uma pitada de loucura. Lembro com muita clareza, como naquela época eu me cobrava, talvez por uma influência do meio e das amizades, gostar de alguém, namorar com seriedade, conhecer a família e fazer votos de amor eterno, e vivia em busca disso, mas, fazer o que se os meus amores pareciam sempre me tocar de forma maluca e sem sentido? Eu me apaixonava pelo barman de um bar que tinha perto de casa, tinha paixões homéricas por homens aleatórios dentro do aeroporto, e, sim, eram paixões verdadeiras e viscerais. Eu me apaixonava perdidamente, queria largar tudo – por alguns dias, claro – e viver aquele amor, paixão, ou o termo que vocês quiserem colocar, intensamente. Mas dificilmente conseguia dar continuidade a isso. E aí que os problemas começavam.

Minhas amigas queriam amar, namorar um bom partido, rico se possível, bonito se possível, construir uma casinha com cerquinha branca e ir à praia todos os finais de semana. Eu queria me apaixonar por alguém que me fizesse perder o senso de certo ou errado. Sabe aquela coisa de fazer a vida virar de cabeça para baixo? Eram as paixões que moviam a minha vida. Sei que essa energia vital, com o tempo, numa relação, se esvai, mas depois eu pensava nisso, precisava aproveitar aquele momento como se não houvesse amanhã. E quando digo aproveitar, não quero dizer ficar com vários e vários homens, até porque, apesar de gostar de me apaixonar, sou bem seletista nas minhas relações e só consigo ficar com um homem de cada vez. Mas, de qualquer forma, sempre gostei de me deixar viver, experimentar, me jogar em sensações novas, me descobrir descobrindo os outros.

E engraçado que, apesar de louca com as coisas da vida e do coração, sempre fui careta com algumas coisas. Nunca fui de beber muito, nem de usar drogas, minhas loucuras são todas com paixões, realizar meus sonhos, objetivos de trabalho e vontades loucas de viajar repentinamente – que tal amanhã? Se quer me fazer se apaixonar, me diga: desce, estou chegando! Nunca gostei de homens com muitas dúvidas, de indecisões já bastam as minhas. E o que isso tudo tem a ver com loucura? Tudo, eu acho. Loucura não é somente se jogar da ponte preso por uma corda, mergulhar com tubarões ou viajar sozinha para o Vietnã, mas colocar o nosso coração numa bandeja que, por muito tempo, já pesou muito. Loucura é dizer, ou olhar, pois palavras não são o meu forte, que, mesmo sem te conhecer muito bem, quero fugir com você. Até porque não tenho mais idade para esconder isso. Principalmente de mim. Os sentimentos estão à flor da pele, as vontades vêm com nome e sobrenome e quanto mais velha vou ficando, mais certa fico das minhas vontades.

Muitos ainda me veem como a menina bonita, calma e recatada. Poucos me conhecem. Talvez ninguém. Às vezes estranham e se questionam, em silêncio na maioria das vezes, como uma menina tão bonita, bem-sucedida e inteligente – palavras deles –, ainda está solteira. Pergunta boba, que nem eu sei responder. E nem faço questão. Talvez eu não tenha nascido para ter uma relação duradoura, mas para ser livre. É verdade, tenho dificuldade em me relacionar, dividir o meu mundo interno e morro de medo da intimidade. E por isso evito perguntas difíceis como essa.

Por outro lado, às vezes fico me perguntando como alguém consegue sentir isso que sinto, essas paixões, em poucos dias, poucos meses? E, em prontidão, me respondo: não tenho a mínima ideia! Parece carência, coisa de gente que toma remédio até para dormir ou que envia mensagens para os ex-namorados pela madrugada, eu sei, mas não é. Eu sou assim, e acredito que seja um mal da alma. Eu não sei até aonde vai essa sensação e esse frio na barriga, mas, sinto até hoje. Me apaixono, sei sentir, me deixo levar por vontades sem sentido ou explicações, e essa sou eu. Mas, por favor, só não me cobre palavras, não sei lidar muito bem com elas.

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