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'Nobel é tão importante quanto prêmio de vovó do ano', diz Ada Yonath

Ada Yonath, vencedora do Prêmio Nobel de Química em 2009 (Foto: Flickr/ German Fuentes Pavez/ Creative Commons)

 

Quando tinha apenas cinco anos, Ada Yonath realizou seu primeiro experimento científico: empilhou duas mesas, uma cadeira e um banquinho para medir a altura do pé-direito do apartamento em que morava. “Mas eu não alcancei o teto. Caí de costas no chão e quebrei meu braço”, relembra.

Décadas depois, agora com cabelos grisalhos encaracolados que caem sobre os olhos, ela está no topo na ciência. Em 2009, Yonath foi vencedora do Prêmio Nobel de Química, após mapear o ribossomo — estrutura celular responsável pela produção de proteínas. “Sempre me perguntam porque ingressei na química”, conta. “E eu respondo: a química é tudo!”

Bem-humorada e com um inglês carregado de sotaque hebraico, Yonath resumiu sua trajetória e sua pesquisa para um público de cientistas durante palestra no Congresso Mundial de Química, realizada nesta segunda-feira (10) em São Paulo. A GALILEU esteve no evento e selecionou pontos importantes para você conhecer um pouco mais a israelense e seu trabalho. Confira:

Infância
Yonath nasceu em 22 de junho de 1939 em Jerusalém. Seus pais eram judeus e tinham baixa condição financeira. O apartamento onde ela morava — e onde machucou o braço — era dividido com mais duas famílias. Além da pobreza, durante a infância, ela teve que lidar com os altos e baixos da saúde do pai, que vivia enfermo.

Apesar das dificuldades, seus pais a colocaram numa boa escola para que ela recebesse uma educação adequada. “Sou rápida para aprender desde aquela época”, orgulha-se. Após a morte do pai, quando ela tinha 11 anos, teve que trabalhar para ajudar a mãe. “Tive todos os tipos de trabalho, limpando, cuidando de bebês e dando aulas particulares para crianças mais novas.”

Carreira
O primeiro contato com questões clínicas e médicas ocorreu quando ela ainda era jovem e estava no treinamento militar — obrigatório em Israel. Depois do serviço, Yonath entrou na Universidade Hebraica de Jerusalém, onde estudou química, bioquímica e biofísica.

O doutorado sobre a estrutura do colágeno foi realizado no Instituto Weizmann de Ciência, onde, anos depois, ela criou o primeiro departamento de cristalografia no país. Atualmente, Yonath é professora e pesquisadora na instituição. Ela também passou por entidades de ensino nos Estados Unidos e Europa. 

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Ada Yonath em laboratório em Israel (Foto: Miki Koren/Weizmann Institute of Science/Wikimedia Commons)

 

 

Nobel
A química ganhou a premiação em 2009, após mais de quatro décadas sem que nenhuma mulher ganhasse o Nobel. Além de quebrar esse jejum, se tornou a primeira pessoa do Oriente Médio a levar o prêmio. Yonath conquistou a vitória ao lado dos cientistas Venkatraman Ramakrishnan e Thomas Steitz, que também desenvolveram trabalhos relacionados a função e estrutura dos ribossomos.

Os estudos dela detalharam as ações dos ribossomos — presentes em todos seres vivos, de bactérias a grande mamíferos. A pesquisa também revelou como eles utilizam as informações presentes no DNA para produzir proteínas, como anticorpos, hemoglobina (substância que transporta o oxigênio pelo sangue) e hormônios.

Por isso, o trabalho de Yonath foi importante para o desenvolvimento de antibióticos mais eficazes, que não deixem as células resistentes aos remédios. “Como ribossomos são tão importantes para a vida, muitos antibióticos trabalham direcionando as ações deles”, fala. “Os avanços que fizemos em nossa longa jornada de desvendar a estrutura e a função do ribossomo podem também preparar o caminho em direção à melhoria dos antibióticos existentes ou ao desenvolvimento de novos medicamentos.”

Mesmo que seus estudos tenham sido um marco de progresso para entender os ribossomos, Yonath ressalta que ainda há muito para aprender sobre essas estruturas. “Como eles começaram a produzir proteínas? Como eles se desenvolveram como uma fábrica sofisticada de proteínas que vemos hoje nas células vivas?”, questiona. “Planejamos responder essas e outras questões relacionadas em nossos trabalhos futuros.”

A pesquisa a fez reconhecida no ramo científico e também em seu país natal, onde até surgiu um bordão sobre o tema. “Como eu tenho cabelo encaracolado, tem um novo ditado em Israel: cabelo encaracolado significa uma cabeça cheia de ribossomos”, fala alegremente.

Família
Todo esforço que ela teve desde a década de 70 para desenvolver suas pesquisas só foi possível graças ao apoio de familiares e colegas de trabalho, aos quais ela sempre faz questão de agradecer.

Em especial, fala da filha e da neta, Noa, que quando tinha cinco anos convidou Yonath para conversar sobre ribossomos no jardim. “O Nobel é tão importante quanto o prêmio vovó do ano”, diz a química sobre a condecoração que ganhou da neta há alguns anos.

* Com supervisão de Giuliana de Toledo.

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