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Quadrinhos mostram lados pouco conhecidos da América Latina

Sandero Luminoso (Foto: Reprodução)

 

Você não precisa ser aficionado por história para saber alguma coisa sobre a Segunda Guerra Mundial, né? Mesmo que não entenda exatamente como foi aquela matança generalizada, você certamente conhece alguma coisa sobre o conflito, talvez as datas, um nome (Hitler? Mussolini? Churchill?), as nações envolvidas ou um marco histórico do conflito (Dia D? Pearl Harbor? Hiroshima?).

Talvez você também saiba alguma coisa sobre a invasão americana ao Iraque (o nome Saddam Hussein lembra alguma coisa?), sobre a Guerra do Vietnã, sobre a queda do general Muammar Gaddafi lá na Líbia ou sobre as atrocidades do Estado Islâmico lá na Síria.

Fugindo um pouco da História: pergunte a um fã de futebol os principais craques da última edição da Liga dos Campeões da Europa e ele não vai titubear, indicando uma dúzia de atletas. Depois pergunte sobre os craques que brilham na liga argentina ou uruguaia; você vai ouvir menos nomes, talvez nenhum.

Você, que é cinéfilo, pergunte-se: quantos filmes norte-americanos assistiu no último ano? Compare este número à quantidade de produções latino-americanas que consumiu no mesmo período. O mesmo serve para a literatura, para a política (Você sabe quem é Vladimir Putin, mas desconhece o nome do presidente do nosso Senado?) e para tantos outros temas.

O ponto é que costumamos conhecer profundamente temas históricos, políticos e culturais de terras longínquas, mas desconhecemos o que acontece aqui no nosso quintal.

Então finalmente vamos ao que interessa: quadrinhos. Nos últimos meses, a Editora Veneta colocou no mercado duas obras interessantíssimas para quem deseja conhecer um pouco mais da história e das raízes brasileiras e latino-americanas.

Brasil holandês
Pedaço da história brasileira pouco ensinada nos anos de formação e praticamente desconhecida nos rincões desse país, a invasão holandesa do século XVII é tema de uma dessas histórias em quadrinhos.

Entre 1630 e 1654, os holandeses controlaram parte do território brasileiro. A “capital” ficava em Pernambuco, mas as propriedades dos Países Baixos se estendiam do Maranhão a Alagoas. Maurício de Nassau, representante responsável por organizar a Nova Holanda, como a invasão era chamada, trouxe consigo artistas, comerciantes, naturalistas e outros membros importantes para o desenvolvimento de uma colônia.

Nesses quase 20 anos de ocupação, construiu-se na Nova Holanda a primeira ponte da América do Sul, além de ruas, praças, jardins e até canais para a circulação de barcos e gôndolas, a exemplo de Amsterdã.

Situada na Nova Holanda e misturando ficção e realidade, a HQ Os holandes (96 páginas — R$ 59,90), escrita e desenhada por André Toral, conta a história dos irmãos judeus Esaú e Cástor, que embarcam nos Países Baixos com destino ao Brasil. O primeiro irmão tem a intenção de enriquecer no comércio da família, que negocia escravos; o segundo pretende investigar o mito de que haveria uma tribo de Israel vivendo entre os índios brasileiros.

Apesar de ser ficcional, a HQ poderia até mesmo ser usada nas escolas para ajudar os estudantes a entender e situar o período na história brasileira. É importante dizer que André Toral não é um aventureiro na área. Ele publica quadrinhos relacionados a temas históricos desde os anos 80, é mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional da UFRJ e doutor em História pela USP.

 (Foto: Reprodução)

 

 

Massacre peruano
Esta HQ apresenta um tema muito mais obscuro e sangrento da história da América Latina: a organização terrorista peruana Sendero Luminoso. Desde a década de 60, os senderistas apavoram os habitantes da província de Huamanga, no sul do Peru.

Oficialmente, o objetivo do Sendero Luminoso era instituir um sistema revolucionário que acabasse com as instituições burguesas no Peru, promovendo o crescimento da classe camponesa. Mas o que se viu na prática foi um massacre descabido dos camponeses que eles juravam defender.

As motivações das mortes cruéis e das torturas praticadas pelo grupo variavam da recusa da população local em se envolver na revolução ao puro sadismo. Mulheres foram estupradas (por senderistas e até mesmo por animais), famílias foram queimadas em suas casas, inúmeros homens foram degolados e enterrados como indigentes, só para citar alguns dos crimes bárbaros praticados pelo grupo.

Sandero Luminoso (Foto: Reprodução)

 

E o governo, o que fazia? Absolutamente nada. O que complicava ainda mais a situação dos camponeses de Huamanga é que eles ficavam entre os senderistas cruéis e os militares das ditaduras que governavam o país na época e que pouco se importavam com os camponeses, já que cometiam os mesmos crimes hediondos praticados pelos membros do Sendero Luminoso.

Apesar de chocante, a HQ Sendero Luminoso (Luis Rossell, Alfredo Villar, Jesús Cossío, Editora Veneta, 208 páginas, R$ 64,90) é essencial para entender a crueldade a que muitos camponeses foram submetidos por aqui. Escrevo “por aqui” porque há relatos de crimes e mortes como as citadas anteriormente em praticamente todos os países da América Latina, sobretudo nos anos em que as nações foram comandadas com mãos de ferro por regimes militares.

É como se diz: leia o passado e estará preparado para o futuro. Que nosso futuro seja mais brilhante do que esse passado cruel!

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