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Um novo modo de aprender e de conhecer a cidade

Tour ajuda alunos a conhecer diferentes formas de morar, consumir e viver na capital paulista (Foto: )

 

Oportunidade. É isso que os alunos da Escola Móbile recebem quando ganham seu Bilhete Único na porta do colégio, localizado em Moema (zona sul de São Paulo), e partem para uma “viagem” pela maior cidade do Brasil, onde moram, mas que não conhecem totalmente. Durante três dias, o projeto Móbile na Metrópole leva 160 adolescentes do 2º ano do Ensino Médio a explorar espaços que dificilmente visitariam por conta própria ou com suas famílias.

São oito grupos de 20 alunos, em média, que percorrem itinerários diferentes, mas que pernoitam em um mesmo hotel no centro da cidade, que é o ponto de encontro da turma. “A ideia do projeto é possibilitar experiências distintas e o conhecimento de lugares e pessoas de um contexto ao qual normalmente os alunos não teriam acesso. Queremos promover a interação desses meninos e meninas com os espaços e as pessoas que ali estão”, explica Fepa Teixeira, professor de Filosofia e coordenador do Móbile na Metrópole.

Os desafios começam pelo uso do transporte coletivo, uma novidade para boa parte dos estudantes do colégio. São eles que decidem qual meio de transporte utilizar, o que os coloca como sujeitos desde o primeiro momento da intensa jornada. “Isso lhes possibilita vivenciar a cidade de uma maneira diferente, sem que simplesmente sejam guiados, dentro de um ônibus fretado com um monitor mostrando os pontos turísticos. A nossa proposta é que esses jovens sejam ativos durante todo o Estudo do Meio, e por isso eles primeiro têm de pensar na locomoção”, diz Teixeira.

Dessa maneira, os alunos aprendem a pesquisar e, ao mesmo tempo, têm papel de criadores do processo, porque vivenciam as experiências. Antes da “viagem”, na escola, os adolescentes são divididos em quartetos, às vezes, quintetos. Já em campo, os membros dos grupos trabalham separadamente para que todos possam compartilhar suas experiências posteriormente com os colegas. “Cada grupo alimenta seu blog com posts sobre as vivências para compartilhar conhecimentos e experiências vividos. Por meio de contas no Instagram, os alunos utilizam a hashtag ‘#MNM’ para publicar suas fotos”, explica Wilton Ormundo, diretor do Ensino Médio da Móbile.

O projeto, que dura o ano todo e envolve os professores da área de Humanas, é finalizado com um minidocumentário autoral, de cerca de 8 minutos, por meio do qual cada grupo apresenta um tema relacionado ao Estudo do Meio. Assim que a “viagem” acaba, começa o processo de produção, com a apresentação de um videoargumento, no qual os alunos contextualizam seu projeto e sua pretensão com o trabalho final.

No ano passado, houve uma mostra de 11 minidocumentários no Cine Belas Artes, em um evento aberto à comunidade. A escola disponibilizou um link para uma votação on-line após as apresentações, e o vencedor levou um prêmio em reconhecimento ao bom trabalho.

Pontos de diversidade
Ao longo das etapas que compõem o projeto, os alunos passam por muitas experiências. Em anos anteriores, eles chegaram a um ponto que lhes é conhecido: o Shopping JK Iguatemi. Mas, antes, percorreram importantes endereços comerciais da capital paulista: a Rua 25 de Março, a Oscar Freire, o Brás. Com isso, puderam perceber as características de cada centro comercial, como os diferentes perfis de consumidores e os diversos preços dos produtos.

Outro ponto de visitação foi o coletivo São Mateus em Movimento, que fica em São Mateus (zona leste de São Paulo), considerado uma das maiores galerias abertas de grafite do mundo. Choveu demais nesse dia e os alunos não tinham como sair da comunidade a pé. Foram, porém, surpreendidos com a hospitalidade dos moradores da comunidade. “A gente precisava ir até o metrô, que não era perto, e os moradores não pensaram duas vezes em nos oferecer uma carona. Os alunos ficaram muito felizes com essa relação de acolhimento e confiança partindo de pessoas desconhecidas”, conta Teixeira.

Os alunos passearam por diversas ruas do centro de São Paulo e regiões da periferia (Foto: )

 

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“Essa ‘viagem’ mudou a minha vida porque me ensinou que às vezes você acha que está enxergando o mundo, mas não está vendo um palmo à sua frente”
Fernanda Lopes de Alcantara Gil, 19 anos, estudante de Direito da FGV-SP

Caindo na real
Talvez a parte mais difícil do projeto tenha sido enfrentar a resistência dos alunos no ano inaugural. Era 2013 e, até então, os alunos do 2º ano do Ensino Médio faziam um Estudo do Meio tradicional, hospedados em um hotel com quadra e piscina, um programa que os adolescentes aguardavam ansiosamente. Por isso, quando os professores informaram no auditório da escola que a tal “viagem” seria na própria cidade de São Paulo, tiveram de lidar com a explícita reprovação do grupo.

Liderando o coro, estava Fernanda Lopes de Alcantara Gil, na época com 15 anos. Ela organizou um abaixo-assinado, reclamou com todos os professores, coordenadores e diretores e, como última tentativa, apelou para os pais. Eles, no entanto, não foram solidários e mandaram a menina para o Estudo do Meio como ele havia sido programado, postura que ela não cansa de agradecer. “Foi uma imersão na cidade e eu mudei muito. Eu me arrependi de tudo que fiz para bloquear essa vivência, que foi uma das melhores experiências da minha vida. Conheci uma realidade totalmente diferente da minha”, diz Fernanda, hoje com 19 anos, estudante de Direito da FGV-SP.

Houve também resistência por parte dos pais, a maioria por temer pela segurança dos seus filhos. Foi o caso da engenheira química Ana Cristina Castelo Branco, 55, mãe de Thais, 20, e André, 17, ambos ex-alunos da Móbile. “Foi uma proposta que me preocupou na época, mas, depois que a Thais participou da vivência, fiz questão de dizer que eu estava errada, que minha preocupação com segurança não fazia o menor sentido e que esse projeto é um sucesso”, lembra. “O Móbile na Metrópole faz com que os alunos vivenciem sua cidade, se apropriem dela, quebrem preconceitos. Isso só os engrandece como cidadãos, sujeitos pensantes e críticos. O olhar dos meus filhos mudou completamente. Eles começaram a enxergar que São Paulo não é apenas o bairro onde eles vivem.”

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