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Crise abre espaço para jovens renovarem a política, diz sociólogo

O sociólogo Celso Rocha de Barros (Foto: Reprodução/GloboNews)

 

Se estes cinco primeiros meses de 2017 fossem um filme, seria um daqueles de apocalipse zumbi, brinca o sociólogo Celso Rocha de Barros. A crise política no Brasil, agravada a cada novo episódio da Lava Jato, gera instabilidade em Brasília e também incertezas sobre o comportamento dos futuros eleitores. Diante de tanto escândalo, seremos um país cheio de jovens descrentes na democracia?

“Hoje tenho medo de que jovens de 16 anos olhem para o sistema político, fiquem enojados e desistam. Isso seria um erro gravíssimo”, diz o doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, que é analista do Banco Central e colunista semanal do jornal Folha de S.Paulo. “A geração que nos trouxe até aqui cometeu muitos erros, mas montou instituições que nos permitiram coisas como a Lava Jato.”

Além da descrença, diz Rocha de Barros, é perigoso ser “otário” em um período turbulento como este, quando “pé-de-otário dá mais fruto”. Sua primeira dica para não se iludir (e não passar vergonha ao debater) é se concentrar “em ideias mais do que em pessoas”. Leia mais dicas abaixo, na entrevista completa à GALILEU.

Há poucos dias, na sua coluna na Folha, você disse que as bandeiras representadas por Lula (justiça social) e Moro (combate à corrupção) precisam se unir no debate político. Com os últimos episódios — a revelação de que o presidente Michel Temer deu aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha e que o senador Aécio Neves pediu R$ 2 milhões à empresa JBS —, esta ideia parece mais próxima de acontecer? A esquerda tende a ficar mais a favor da Lava Jato a partir de agora?
Tenho alguma esperança de que as novas denúncias aproximem a esquerda da Lava Jato, diminuindo a percepção de viés. Afinal, agora os corruptos de direita foram para o centro da operação. Enquanto o debate se der exclusivamente em torno do Lula, essa aproximação sempre vai ser difícil, mas acho que, gradualmente, ela pode se dar.

A cada novo episódio da crise, os ânimos da população se acirram. Para usar uma expressão sua, “é em horas como esta que pé-de-otário dá mais fruto”. Como evitar ser um otário diante de tantas viradas na história?
Algumas dicas para não ser otário: concentre-se em ideias mais do que em pessoas; não acredite em salvadores da pátria; saiba que onde houver poder, haverá política, e, por isso, o discurso antipolítica é sempre tentativa de distrair sua atenção; diante de uma crise como essa, concentre-se menos no fato de que há imensos escândalos de corrupção (que sempre existiram) e mais no fato de que os escândalos estão vindo à tona (o que nunca tinha acontecido). Há vários observadores em países como a Rússia ou a Turquia admirados como o Brasil está conseguindo combater a corrupção dentro da democracia.

Na sua opinião, as novas gerações, diante desta crise grave e longa, sairão descrentes da política e da democracia? Como vão se comportar diante deste cenário?
Isso me preocupa muito. Eu fui exatamente da primeira safra de eleitores da nova democracia brasileira: fiz 16 anos em 1989, votei para presidente pela primeira vez junto com gente que era mais de 20 anos mais velha que eu.

Minha adolescência foi durante a transição democrática, uma época de grande crise econômica, mas muitas ideias, muitas esperanças. A própria liberdade de discutir política, de votar, de entrar em partidos, era uma novidade, e a sensação era espetacular. Foi aí que me apaixonei por política.

Hoje tenho medo de que jovens de 16 anos olhem para o sistema político, fiquem enojados e desistam. Isso seria um erro gravíssimo. A geração que nos trouxe até aqui cometeu muitos erros, mas montou instituições que nos permitiram coisas como a Lava Jato.

Agora é a hora de se engajar com ainda mais entusiasmo do que eu me engajei na minha época, porque essa nova geração terá que renovar nossos partidos, injetar novas ideias no debate etc. A crise atual está limpando o campo para que a garotada possa construir coisas melhores em alguns anos.

O apresentador Luciano Huck, de 45 anos, disse, no fim de março, que está na hora de a sua geração ocupar o poder. É curioso que, para a política, o “jovem” seja interpretado com alguém nem tão jovem assim. Por que, no Brasil, temos poucos líderes mais novos?
Acho que aos poucos os jovens vão cavando seus espaços, atuando em movimentos, igrejas, associações de moradores etc. Mesmo o Huck e outros políticos da geração dele (que é a minha) são mais jovens que os presidenciáveis costumam ser.

A carreira política tem uma certa progressão, e acho que devemos ter mais esperança de ver gente de 20 anos no legislativo, por exemplo. Com a crise atual, não seria surpresa se esse número aumentasse no futuro próximo.

Você já escreveu que, “sem legendas conservadoras”, 2016 rende um filme menos moralmente edificante do que se pode pensar. E estes primeiros cinco meses de 2017? Se fossem um filme, como poderíamos classificá-lo?
Bom, desde ontem acho que seria um desses filmes de apocalipse zumbi. Mas sempre é possível uma reviravolta antes do fim.

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