Fotografar passeios melhora suas recordações – mesmo quando você não vê as fotos depois
Todo mundo tem aquele amigo que, se não faz pelo menos uma selfie, parece que nem saiu de casa. Não importa o roteiro, tirar uma foto é, para algumas pessoas, a melhor forma de eternizar bons momentos. Mas há também os mais puritanos, que pensam exatamente o contrário. Perder tempo atrás do melhor enquadramento na procura pelo clique perfeito impede que se aproveite a situação como se deveria. “Não tem coisa mais chata que gente que só fica fotografando”, diriam, se tivessem de provar seu ponto.
A ciência, no entanto, está do lado de quem gosta de clicar. Registrar os momentos com a câmera se mostrou, em um experimento criado por pesquisadores americanos, a forma mais eficiente de se lembrar de uma cena nos mínimos detalhes.
A relação, a princípio, pode parecer óbvia: quem fez as fotos tem as cenas mais frescas na cabeça porque pode simplesmente consultar o material a hora que quiser. Mas não é exatamente assim que funciona. Só o fato das cobaias encarnarem uma mentalidade de fotógrafo já foi suficiente para que estivessem muito mais atentas – e assimilassem melhor as imagens.
Até porque, por mais que você se empenhe na tarefa, a maior parte das fotos só será vista uma única vez. Quando muito, acontece uma segunda olhadela – coisa bem rápida, só mesmo para excluir as cenas repetidas e dar uma folga à memória do dispositivo.
A fim de verificar o real impacto das fotos na experiência das pessoas, os pesquisadores levaram 294 voluntários a um museu. Lá se depararam com uma exposição de arte etrusca, povo que habitou por séculos a região do norte da Itália – até sumirem do mapa no século 1 a.C.
Os voluntários tinham uma missão bem clara: fazer pelo menos dez fotos diferentes, de tema livre. Enquanto passeavam pelo ambiente, eram acompanhados pelo recurso de áudio-guia, que narrava a exposição enquanto passavam pelas obras.
Ao final do passeio, os participantes tiveram de responder um questionário de múltipla escolha, com perguntas que cobravam detalhes das obras expostas ou que pediam para completar trechos do áudio que os seguiu durante o percurso. Quem passou a visita toda com a câmera frente ao rosto conseguiu descrever melhor tudo o que acabara de ver. E o melhor: essa vantagem apareceu mesmo em aspectos que não foram fotografados.
“Mesmo quando as pessoas não fotografavam um objeto em questão, como uma escultura, mas mantinham a câmera consigo na intenção de fazer seus registros, eles lembraram mais detalhes do que quem estava sem câmera”, explicam os pesquisadores. Mas nem tudo foram flores. A audição dos fotógrafos aspirantes, porém, acabou saindo prejudicada: eles prestaram menos atenção nos sons ambientes do que quem estava sem câmera.
Da próxima vez que resolver encarar uma programação mais artística, então, se atente à dica da ciência. Deixar a câmera em casa pode ser a melhor pedida quando o assunto é uma experiência mais sensorial, mas para se lembrar mais do que viu, fotografe mais.
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