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Corais da Amazônia podem ajudar a salvar outros do aquecimento global

Uma das primeiras imagens dos Corais da Amazônia (Foto: Greenpeace/ Divulgação)

 

No encontro do Rio Amazonas com o Oceano Atlântico, no norte do Brasil, está localizado um novo tipo de bioma que traz esperanças para a preservação de animais aquáticos durante o aquecimento global. Os Corais da Amazônia, que tiveram a existência confirmada em 2016 por um grupo de cientistas, são uma aposta para proteger diversas espécies dos efeitos das mudanças climáticas.

Em janeiro de 2017, a ONG Greenpeace promoveu uma expedição por submarino para explorar a região e registrar as primeiras imagens do ecossistema. Os pesquisadores encontraram esponjas, rodolitos (algas calcárias) e novas espécies de peixes em locais com profundidade entre 30 e 185 metros.

Justamente por ser um território fundo, de água turva e pouca luz solar, os cientistas acreditam que o bioma esteja imune aos efeitos do aquecimento global e, assim, pode ajudar a preservar formas de vida que correm o risco de desaparecer em outras partes do planeta.

É o caso da Grande Barreira de Corais da Austrália, um conjunto de recifes de águas rasas que corre o risco de morrer devido ao aumento da temperatura da água do mar. Em comunicado divulgado em maio deste ano, o governo australiano disse que um terço da área foi perdida em 2016.

“O que temos hoje como paradigma científico é que corais mesofíticos [profundos] em geral não sofrem com as mudanças climáticas. Portanto, em longo prazo, os corais de zonas rasas seriam repovoados através dos estoques profundos que não seriam afetados pelas mudanças climáticas”, esclarece à GALILEU o biólogo Ronaldo Francini Filho, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que participou do grupo de estudos e da expedição organizada pelo Greenpeace. 

Mapa da região onde ficam os Corais da Amazônia (Foto: Galileu)

 

Isso significa que os corais australianos fundos salvariam os corais rasos da própria costa, e a mesma coisa aconteceria com os recifes de corais pelo mundo. "Os corais fundos do Atlântico, incluindo os corais da Amazônia, salvariam os corais rasos do Atlântico Central e Sul", explica o biólogo. 

A explicação para esse feito está na forma de reprodução dos cnidários — como são chamados animais aquáticos como corais, anêmonas e medusas. Eles geram larvas que ficam nadando à deriva até encontrar substratos duros, como bordas submersas de ilhas. "Uma vez encontrada uma nova superfície, eles se fixam, crescem e geram uma nova colônia", informa Francini. 

Devido ao seu tamanho, os pesquisadores ainda desconhecem tudo o que o ecossistema dos Corais da Amazônia engloba. “Eles contêm espécies brasileiras e caribenhas. No entanto, a coleta de material biológico ainda é necessária para confirmar a ocorrência destas”, diz Francini. “Além de potenciais espécies novas, o Recife do Amazonas também apresenta elevada abundância de espécies ameaçadas de extinção e de peixes importantes economicamente.”

Inicialmente, a área do bioma era calculada em 9,5 mil km². Depois da viagem pelo submarino, a estimativa chega até 40 mil km², envolvendo a Foz do Rio Amazonas, a fronteira do Brasil com a Guiana Francesa e o norte do Maranhão.

Petróleo
A empolgação dos especialistas vem acompanhada da preocupação de uma possível extração de petróleo na região. As empresas BP Energia, Queiroz Galvão Exploração e Produção e Total E&P do Brasil têm planos de abrir poços no fundo do mar da região para retirada do óleo.

Alegando que essa ação pode trazer riscos de vazamentos e, com isso, a devastação do ecossistema, o Greenpeace criou a campanha “Defenda os Corais da Amazônia”. Já que o bioma possui mais de 60 espécies de esponjas, o mascote da petição é o personagem de desenho animado Bob Esponja. 

O bloco sob responsabilidade da Queiroz Galvão fica a aproximadamente 160 quilômetros da costa brasileira e, segundo a empresa, "encontra-se atualmente em processo de licenciamento ambiental para a atividade de perfuração marítima".

Em nota à GALILEU, a companhia revela ter elaborado um Estudo de Impacto Ambiental (EIA) "que incluiu um levantamento ambiental intenso na área do bloco, incluindo a obtenção de filmagens de fundo marinho e coleta de amostras de água e sedimento, já entregue para análise do órgão ambiental". No momento, a Queiroz Galvão diz esperar a conclusão deste processo para realizar ou não a perfuração.

Ouriços-do-mar branco e rodolitos presentes nos Corais da Amazônia (Foto: Greenpeace/ Divulgação)

 

Diante desse embate, em maio de 2017, o Ministério Público Federal (MPF) no Amapá solicitou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) suspendesse as atividades da empresa Total E&P do Brasil na costa do Estado. O argumento utilizado para a decisão foi que a abertura dos poços poderia ameaçar a existência de recifes ainda desconhecidos.

A Total alega que realizou estudos e não encontrou ecossistemas recifais dentro das áreas dos cinco blocos de que é proprietária. "Investimos fortemente para aplicar as melhores práticas da indústria em segurança operacional, desenho dos poços, perfuração e proteção do meio ambiente", diz em comunicado a companhia. A Total afirma que está aguardando a emissão ou não de licença ambiental pelo Ibama. 

O biólogo Ronaldo Francini Filho defende a decisão do MPF. Segundo o pesquisador, o estudo de impacto ambiental apresentado até agora pela Total é frágil e seus modelos de dispersão de óleo (em caso de derramamento) apresentam lacunas.

“Estamos propondo um avanço nos estudos da região e um planejamento sistemático que possibilite um zoneamento espacial, incluindo áreas de proteção integral e uso sustentável (unidades de conservação), regulamentação da pesca, turismo e mineração”, diz Francini, que destaca a importância dos corais também para o sustento dos moradores da região. “Milhares de pessoas dependem da pesca e de serviços ecossistêmicos providos pelos recifes e outros ecossistemas costeiros e marinhos.”

A reportagem também entrou em contato com a empresa BP Energia, mas ainda não obteve resposta. 

* Com supervisão de Giuliana de Toledo.

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