Conversamos com a brasileira que fotografou 12 capas da TIME com um iPhone
Luisa Dorr ainda estava entre o Brasil e Nova York quando a SUPER tentou contato com ela. A fotógrafa gaúcha de apenas 28 anos ficou responsável por uma das iniciativas mais ambiciosas da revista americana TIME: um especial com 12 capas diferentes. A revista nunca teve tantas capas de uma só vez.
A proposta fica ainda mais desafiadora, se pensar que a várias das capas foram clicadas em 2 minutos, com uma câmera comum de iPhone.
O editorial FIRSTS traz 46 mulheres que foram pioneiras em seus campos de atuação: são gigantes políticas como Hillary Clinton, do entretenimento como Oprah e Shonda Rhimes, do esporte, como Serena Williams e outros nomes menos conhecidos, mas igualmente revolucionários, na ciência, na arte e até na justiça.
Todas foram fotografadas por Dorr, usando só seu telefone e, no máximo, um rebatedor de luz. Doze viraram capas e todas estão presentes no projeto multimídia FIRSTS, que conta ainda com vídeos com cada uma das pioneiras da TIME.
A história de Dorr começa com seu Instagram (bem lindo, por sinal), motivo pelo qual chamou a atenção da TIME para o seu trabalho. Mas a artista está bem longe ser “blogueira” do Instagram. Ela tem um contato limitado com seus seguidores, fala pouco de si. Todo o foco são suas fotografias – que já falam mais que o suficiente.
Em um papo por email com a SUPER, Luisa contou como é ser “fotógrafa de iPhone”, quais foram os momentos mais empolgantes de fotografar tantas celebridades, os maiores desafios de FIRSTS – e ainda deu uma palhinha sobre seus outros projetos.
Como foi o momento em que você decidiu “Vou fazer fotografias incríveis e vou fazer tudo com o iPhone”? Logo virou parte da sua rotina profissional ou tinha sido pensado apenas para o Instagram?
Eu uso meu Instagram como forma de diário. Tenho uma memória ruim, então gosto de publicar nesta plataforma, me ajuda a lembrar de viagens, pessoas, momentos. A maioria das fotos são de mulheres. Mas é acidental, não estou distinguindo gêneros. Eu gosto de fotografar seres humanos. A sexualidade deles é irrelevante, mas acontece que com o tempo acabei fotografando mais mulheres e acabei criando um projeto, #womantopography.
Todas as fotos do meu Instagram são feitas com o telefone. No meu site, por exemplo, tenho outros projetos voltados ao gênero feminino, mas feitos com a câmera, como o projeto da Maysa, sobre raça, gênero, sexismo, inclusão social ou o O véu da noiva, sobre a Congregação Cristã do Brasil, a igreja evangélica mais ortodoxa em relação às mulheres.
A Kira Pollack [diretora de fotografia da TIME] me convidou porque gosta do meu Instagram. Da estética das fotos do Instagram. Não seria possível ter o mesmo resultado com a câmera, são ferramentas diferentes.
Quais são os desafios para tirar fotos nessas condições?
As ferramentas são apenas um meio. Eles ajudam no processo, mas não criam. O que faz a diferença é aquele que segura a ferramenta e a relação que estabelece com a fotografia. Um debate em torno dos aspectos técnicos mantém você longe da experiência real.
Fotografar com o telefone nao significa que seja mais fácil. Você precisa pensar na foto da mesma forma, compor, e trabalhar com a luz que vc tem. Muitas vezes tive que fotografar em um lugar que não gostava tanto porque a luz era ruim onde eu queria.
Chegávamos no lugar da foto em média 1:30h antes da sessão, as duas meninas do video iam montar o set delas em um lugar tranquilo, e eu tinha que buscar meu cenário dentro do que me permitiam usar. Nada estava produzido me esperando para o clique. Era tudo feito na hora, tinha que buscar a solução sempre antes de cada foto. Manter em conta a estética do projeto, procurar contexto que nem sempre era possível. As vezes só me permitiam usar uma sala, uma parede. Por isso algumas vezes optei por um fundo sólido.
Qual dos retratos foi o mais difícil de fazer?
A dificuldade quase sempre era delimitada conforme o tempo que me davam. Era frustrante quando tinha apenas dois minutos para fazer os retratos, mesmo sendo uma revista tão importante quando a TIME. Aretha Franklin foi a que me deixou mais nervosa, porque eu sou fã dela. E ela só me deu dois minutos.
E o mais gostoso de fotografar?
Para mim, foi a Sylvia Earle [primeira mulher a se tornar cientista-chefe da Administração Oceânica e Atmosférica Naciona dos EUAl]. Adorei que ela topou entrar na água. Como eu falei, tudo era decidido na hora. Eu liguei para ela aquela manhã para ver se poderia trazer alguma roupa de mergulho, para que tivesse contexto – caso contrário ela estaria usando roupa casual na praia.
Ela trouxe de tudo, roupa de mergulho, pé de pato, óculos. Ela tem mais de 80 anos – e é a prova de que se você faz algo que ama, você envelhece bem, feliz, ocupada.
Já pensou como o mundo seria um lugar melhor se a pessoas fizessem o que gostam? Se os pais permitissem que os filhos seguissem seus sonhos? Ela teve pais que permitiram. Ela conta isso. Na geração dela, ela comenta que ciência era coisa de homem, e mesmo assim ela fez o que sentia, e veja só. Ela me inspira muito.
Qual dos retratos finais é seu favorito?
Não sou capaz de escolher um só, mas gosto muito do retrato da Mo’ne Davis, Janet Yellen, Ilhan Omar, Danica Patrick e Hillary Clinton.
Você mudou durante a série de um iPhone 5 para o 6, 6s e então o 7. Essas mudanças tiveram impacto sobre os retratos?
Comecei com o meu iPhone antigo, 5s, com o qual fiz uma única foto. Depois fui migrando de telefone, conforme a TIME me disponibilizava novos aparelhos. A maioria das fotos foi feita com o iPhone 7plus.
Do iPhone 5s ao 7plus, tem uma diferença enorme de qualidade na câmera. Mas todas foram impressas do mesmo tamanho, tem equilíbrio. Acho que ninguém adivinharia com qual telefone fiz cada uma.
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