NASA escolhe logo de brasileiro para missão com impressora 3D na ISS
Espaçonaves de brinquedo davam um nó na cabeça do pequeno Rafael Fontes. Quando novinho, na década de 1990, os pais já sabiam que ele era vidrado em astronautas e adorava exploração espacial — então lhe davam as naves mais famosas de Star Wars e Star Trek em Lego para brincar. Mas montar a Enterprise ou a Millenium Falcon não fazia os olhos de Fontes brilharem. Gostava mesmo era da realidade.
“Tinha preconceito porque elas não representavam as características das naves da NASA, como os ônibus espaciais ou as cápsulas da Apollo”, diz o publicitário de 31 anos, de Barra Velha (SC). Fontes nunca perdeu o gosto pelo espaço e, principalmente, pela agência espacial americana. Tanto que, depois de três tentativas, realizou um sonho: teve a arte selecionada para estampar uma missão na estação espacial internacional (ISS).
Refabricar no espaço
Nos últimos meses, o brasileiro trabahou três horas por dia, sacrificando tempo livre e domingos em família, para vencer um concurso da agência espacial americana, com 230 inscrições de gente do mundo todo pela plataforma Freelancer. Ele criou a identidade visual da missão Refabricator, que deve voar à ISS em breve. O equipamento combina reciclagem com impressão 3D, tecnologias cruciais para o futuro das missões tripuladas ao espaço profundo. “Se um astronauta tiver uma colher inútil, por exemplo, pode pôr na máquina e refabricar aquilo — desfazer e transformar no objeto que ele precisa”, explica Fontes.
As possibilidades são infinitas. O plástico dos pacotinhos de alimentos consumidos pode ser reaproveitado para fabricar ferramentas fora da Terra, ou então peças para a própria nave. É uma maneira de reduzir drasticamente o volume de carga das missões espaciais e o custo para mantê-las, além de dar mais autonomia aos astronautas. São tecnologias como essa que abrem as portas do Sistema Solar para os humanos. Em seu patch (como os americanos chamam as insígnias), Fontes conseguiu captar tudo isso.
Design espacial
O formato triangular remete ao clássico design das escotilhas (as portas) das cápsulas. Foi como o publicitário demonstrou a paixão de criança pela exploração espacial. “E uma linha verde acompanha esse triângulo, em alusão à reciclagem. Na ponta, quis passar a ideia de camadas, para simbolizar a cabeceira de uma impressora 3D”, explica. Dentro, um astronauta faz malabarismo como se mostrasse, orgulhoso, os utensílios que pode fabricar no espaço.
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Segundo Fontes, o design pode parecer poluído e fugir da linha minimalista que predomina hoje. Mas foi proposital. “Patches de programas espaciais têm muitos elementos, são recheados de informação”, conta. Sabia disso desde pequeno, quando visitou o Kennedy Space Center, da NASA — trouxe de lá algumas insígnias emblemáticas. Na época, tinha quase a mesma idade que as filhas têm hoje (três e seis anos), para quem deseja que a conquista sirva como exemplo de determinação e inspiração pela ciência.
Quando questionado sobre o valor baixo do prêmio, US$ 250, Fontes defende a agência, dizendo que foi uma estratégia para afastar os curiosos e manter na disputa somente os entusiastas do assunto, aqueles que sabem o que a agência quer e fazem os patches por paixão. O publicitário confessa que participaria do concurso mesmo sem prêmio nenhum. “Só de saber que um dia tive a oportunidade e o privilégio de participar um pouquinho da exploração espacial”, diz, “sei que é só um logo, não um foguete, mas para mim é enorme — ganhar e saber que aquilo vai para o espaço um dia é indescritível.”
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