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Mãe fala tudo igual

Você talvez não conheça a expressão “tatibitati”, mas sabe o que ela significa: aquele jeito desafinado, repetitivo e meio engraçado de falar que mães usam instintivamente com seus bebês. Aqui está um bom exemplo (nota: a SUPER não se responsabiliza por casais que tem mais de 20 anos e ainda falam assim).

Não parece, mas esse hábito ao mesmo tempo fofo e irritante é um dos assuntos mais intrigantes da linguística. Ele pode (ou não, é aí que tá) contribuir com a aquisição da linguagem pelos bebês – um fenômeno que, por ocorrer muito rápido e envolver mil variáveis biológicas e culturais, ainda é um dos maiores mistérios da ciência.

Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Princeton deu uma de Lost – e, em vez de resolver o mistério, o tornou ainda mais intrigante. Eles descobriram que o inocente tatibitati é falado com timbre idêntico em pelo menos nove línguas diferentes; e é bem provável que a conclusão valha para todas línguas do mundo.

Pausa: “timbre” é a característica do som que permite que a gente diferencie um piano, um saxofone, o Roberto Carlos e um gato quando eles estão emitindo a mesma nota. Se não existissem timbres, todos os sons do mundo seriam iguais. Você não seria capaz de saber, só pela voz, quem está te ligando.

A mera existência de timbres é algo muito complexo. Eles dependem, entre outras coisas, da composição do objeto que produz som – metal ou nylon, no caso das cordas de um violão, sua garganta, no caso da voz – e das frequências que esse objeto abafa ou destaca – o que torna o som mais macio ou estridente.

Comparando gravações de 12 mães falantes de inglês conversando com seus bebês de um ano e com outros adultos, a equipe da neurocientista Elise Piazza percebeu que elas alteram o timbre exatamente da mesma maneira sempre que se dirigem a seus filhos. Um computador foi capaz de diferenciar o tatibitati de todas as outras formas de falar com amostras de apenas um segundo de duração.

O próximo passo do teste foi pegar amostras de tatibitati em espanhol, russo, polonês, húngaro, alemão, francês, hebraico, mandarim e cantonês. A resposta você já sabe: sem nenhuma reprogramação, o computador que reconheceu o tatibitati anglo-saxão detectou as mesmas mudanças de timbre de antes em todas as amostras.

“O algoritmo, quando treinado apenas com informações em inglês, foi capaz de distinguir imediatamente conversas com uma criança ou com um adulto em um conjunto de gravações que não estavam inglês”, explicou Piazza em um comunicado. “Isso dá fortes evidências de que o fenômeno pode ser generalizado para todas as línguas. A mudança de timbre pode representar uma forma de comunicação universal, que mães usam inconscientemente para atrair a atenção dos bebês e ajudá-los a aprender a língua.”

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