Nossos antepassados andavam completamente diferente de nós
Tente se imaginar como um pacato cidadão do século 15. Esqueça por um momento intempéries como a peste bubônica e a falta de saneamento básico, e contemple o novo ambiente urbano, que fervilha como nunca. Graças ao movimento intenso de mercadores e ao grande fluxo de pessoas, as ruas agora são pavimentadas. É bom manter isso em mente quando for sair de casa, para não machucar seu pé nas pedras – ou ser atropelado por uma carroça em alta velocidade, quem sabe.
Escolher o sapato ideal para uma jornada ao ar livre é fundamental. Porém, para quem vive antes dos anos 1500, não há muitas opções: o tipo mais popular de calçado é essa espécie de meias de couro (como estes aqui) que quase não oferecem proteção. Só no século 16 chegaria uma invenção para aposentar de vez os pés quase-descalços. Com os sapatos de sola fixa, ir e vir passa a ser muito mais confortável.
O novo item foi suficiente para que as pisadas nunca mais fossem as mesmas. Além de mudar o visual, a presença dos novos calçados impactou também a mecânica corporal das pessoas na Idade Média.
Até então, homens e mulheres medievais costumavam andar em passos de bailarina: a primeira parte que encostava no chão era a sola do pé, e o resto do membro era repousado depois. Apesar de hoje pouco usual, essa era uma tática bastante útil do ponto de vista sensitivo. Como você deve imaginar, seria bem melhor pisar em algo pontudo – ou nojento – com a pontinha do pé do que colocar todo o peso do corpo no calcanhar (e no objeto indesejado). Já que os arredores não eram grande exemplo de higiene, manter-se nessa postura facilitava as coisas.
Porém, uma vez que os pés estavam protegidos por um revestimento mais duro, esses cuidados não precisavam mais ser tão intensos. Passou-se, então, a incorporar o hábito de andar apoiando primeiro os calcanhares, e só depois a planta, como fazemos hoje em dia. Essa simples diferença mudava tudo: homens e mulheres, agora, sofriam menos impacto em seus esqueletos, porque precisavam fazer esforço bem menor. Chega de ficar tão cansado de subir escadarias ou caminhar longas distâncias.
Quem conta toda essa história é Roland Warzecha, designer gráfico apaixonado por história medieval – além de entusiasta de combates com espada e escudo. Vestido como um autêntico homem da Idade Média, ele fala diretamente do Bärnau Historic Park, museu arqueológico a céu aberto que fica na Alemanha. Segundo ele, culturas que andam descalças até hoje também se locomovem assim. Você pode assistir à explicação completa no vídeo abaixo.
Como o próprio Warzecha pontua em um artigo para seu Patreon, vale ressaltar um equívoco conceitual no vídeo. Andar com ponta dos pés não é o movimento mais intuitivo humano – embora os bebês comecem a arriscar seus primeiros passos dessa forma. Apoiar o pé no chão por completo segue sendo a forma mais conveniente de guardar energia e manter o equilíbrio. O solo, é o de menos. Contanto que você esteja com o sapato adequado, está tudo certo.
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