Pesquisadora brasileira vence prêmio de sustentabilidade na Alemanha
Um concurso promovido pelo Ministério Federal da Educação e Pesquisa da Alemanha escolheu a pesquisadora brasileira Kamila Pope, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), como um dos 25 jovens cientistas promissores do mundo. Ela se destacou entre os 602 candidatos de mais de 95 países que se inscreveram no prêmio. A cerimônia de premiação acontece no final do mês, durante o "Green Talents - Fórum Internacional para Iniciativas de Alto Potencial em Desenvolvimento Sustentável".
Esse ano o concurso abordou o tema “Produção e Consumo Sustentáveis”, selecionando as ideia mais inovadores capazes de tornar a sociedade mais sustentável. Com 33 anos, a mestre e doutoranda em Direito Ambiental pela UFSC apresentou projeto inspirado pelo 8º princípio da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que declara que os estados devem reduzir e eliminar padrões insustentáveis de produção e consumo.
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Seu foco é a obsolescência planejada, uma estratégia da indústria que reduz a durabilidade dos bens de consumo, forçando as pessoas a comprar novos produtos. Dessa forma, contribui para a superexploração de recursos naturais e superprodução de resíduos. Em entrevista por e-mail para à GALILEU, a pesquisadora, que já está em Berlim, explica um pouco sobre o seu trabalho.
O que seu trabalho traz de inovador?
Atualmente há poucas pesquisas sobre obsolescência planejada e a maioria da população, embora sinta seus efeitos, não tem ideia sobre sua existência. A análise das causas e consequências dessa prática é algo inovador. Por outro lado, o questionamento sobre o atual modelo de desenvolvimento, baseado na falsa ideia de crescimento econômico infinito, trouxe uma perspectiva da noção de sustentabilidade que geralmente não aparece em pesquisas ambientais tradicionais. Portanto, o questionamento da própria noção de sustentabilidade foi um ponto de destaque que fez com que o júri selecionasse o meu trabalho.
Quais são as soluções propostas para superar a obsolescência planejada?
Não existe uma resposta única. Primeiro é preciso ressaltar que precisamos de profundas mudanças em nosso modelo de desenvolvimento econômico para que possamos migrar para padrões mais sustentáveis. Até alcançarmos essa transformação mais radical, alguns caminhos podem ser tomados.
Do ponto de vista econômico, podemos investir em novos modelos de negócios. Ao migrar da noção de propriedade para compartilhamento de produtos, as empresas certamente buscarão bens mais duráveis, pois assim podem lucrar mais com o uso/compartilhamento duradouro deles. Para consumidor, é preciso que diminuamos o ritmo e quantidades do nosso consumo, priorizando produtos mais duradouros, produzidos com responsabilidade socioambiental. Nas políticas públicas, podem ser concedidos incentivos para empresas que buscam essa responsabilidade, investindo na durabilidade de seus produtos.
Finalmente, do ponto de vista legal, muitos instrumentos podem ser utilizados, como a sua criminalização (ocorreu na França); a regulação do ciclo de vida dos produtos, no qual o seu planejamento estaria incluído; a aplicação da responsabilidade compartilhada do produto, atualmente previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos; e a informação sobre a durabilidade dos produtos por meio de rotulagem.
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