Tudo o que você precisa saber sobre o panda gigante
É quase impossível encontrar alguém que não ache ursos pandas fofos. Até a pessoa mais séria que você conhece provavelmente vai amolecer ao ver um vídeo dos peludos. Mas não é só de fofura que vivem esses animais: eles precisaram evoluir para continuar por aqui, e nessa acabaram obtendo hábitos um tanto quanto peculiares.
Até os anos 1980 ninguém sabia direito se os pandas eram ursos
Durando muitos anos, os pandas gigantes foram confundidos com guaxinins, grupo do qual os pandas vermelhos fazem parte. Foi só em meados dos anos 1980 que um estudo publicado na Nature provou que esses gigantes eram, na realidade, ursos.
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Originários da Ásia, eles pesam entre 75 quilos e 160 quilos, com altura de 1,20m a 1,50m — bem diferente de quando nascem, que parecem ratinhos de 200g. A expectativa de vida é de 15 a 20 anos na natureza e 25 a 35 em cativeiro.
Em 2013, um estudo realizado pela Autoridade de Gestão das Florestas, constatou que 1.864 pandas gigantes viviam na China em estado selvagem. Em 2016, existiam 268 a mais, o que significa um crescimento de 16,9%. Hoje estima-se que existam cerca de 2.060.
Esse crescimento fez com que, em 2016, a União Internacional para a Conservação da Natureza mudasse a classificação de “espécie ameaçada" para "espécie vulnerável", o que foi muito comemorado na época.
"É tudo sobre como restaurar o habitat. Ao restaurar, é dado de volta o espaço e haverá comida disponível", disse Craig Hilton-Taylor, responsável pela lista vermelha da entidade, à BBC. De acordo com ele, a redução das áreas onde vivem os ursos fez com que sua população diminuísse.
Isso faz sentido, já que esses animais precisam comer entre 12 quilos a 38 quilos de bambu por dia para manter o corpo funcionando. E, sim, isso resulta em bastante cocô. Cocô, aliás, que a apresentadora Glória Maria teve a experiência de limpar em uma das edições do Globo Repórter, da TV Globo: “Tem cheiro de chá verde, nada horroroso”, disse na ocasião.
Pandas ou camaleões?
Segundo um estudo publicado no Behavioral Ecology, a maior parte do corpo dos pandas é branca para que possam se esconder com facilidade na neve. Já os braços e as pernas pretos ajudam na hora de se esconderem nas sombras da floresta, também para evitar ameaças — que na maior parte das vezes vem dos leopardos das neves.
Já sobre os olhos e as orelhas, os cientistas acreditam que a cor preta ou os ajuda a se comunicar ou mostra agressividade para os predadores. "Entender por que o panda gigante tem esta cor é uma velha incógnita que não havia sido possível desvendar até agora porque, como nenhum outro mamífero tem essa aparência, não se podia fazer analogias”, explicou Tim Caro, líder do estudo, em um comunicado.
Os pandas não gostam de sexo
Por mais que a espécie esteja vulnerável, os ursos pandas não gostam de fazer sexo — e a culpa é da biologia. As fêmeas entram no ciclo fértil apenas uma vez por ano, durante um período muito curto na primavera. Elas são receptivas por apenas 24 a 72 horas e, como os machos sabem que “não é não”, ou eles paqueram as fêmeas nesse período ou precisam esperar um ano pelo próximo cio.
E ainda há outro agravante: o “cara” só topa copular se ele realmente estiver a fim da parceira, o que é muito raro: de acordo com o diretor de um centro de pesquisa chinês, menos de 5% dos pandas machos podem se reproduzir. "Talvez não haja um mamífero com frequência de sexo menor do que as fêmeas de panda gigante", afirmou a Scientific American em um artigo de 2012.
Esse fato, portanto, interfere na reprodução da espécie, problema que é ainda mais agravado pelo pequeno número de animais, pelo longo período de gestação (entre 7 e 9 meses) e pelo fato de que, na maior parte das vezes, cada gravidez resulta em apenas um filhote vivo.
Muitos zoológicos e unidades de conservação têm apostado na reprodução desses peludos em cativeiro, às vezes usando métodos de inseminação artificial. Entretanto, a volta à natureza na maioria das vezes é conturbada e resulta na morte dos animais.
Em 2007, o primeiro panda gigante nascido em cativeiro foi levado de volta à selva, mas foi espancado por outros machos e morreu. Contudo, Craig Hilton-Taylor acredita que manter esses animais em cativeiro é só uma segurança. "Você não quer mantê-los em cativeiro para sempre", disse para BBC.
Número 1 e número 2
Que o cocô dos pandas têm cheiro de chá verde a Glória Maria já nos contou, o que você talvez ainda não sabe é que esses fofinhos têm sérios problemas para digerir bambu — justamente sua maior fonte de alimentação.
Uma olhadinha no microbioma do intestino dos peludos mostrou que eles têm relativamente poucas bactérias que ajudam a digerir plantas fibrosas como o bambu. A maior parte das bactérias que se encontram no sistema digestivo são organismos normalmente encontrados em comedores de carne.
"Os animais também não têm os genes de enzimas de digestão de plantas em seu genoma", disse Zhihe Zhang, principal autor do estudo que fez essa descoberta, em um comunicado. Segundo ele, esse cenário pode ter aumentado ainda mais o risco de extinção.
Já sobre a hora de fazer xixi, especialistas mostraram que os ursos procuram por árvores mais “enrugadas”, já que a rugosidade da casca ajuda na fixação do cheiro da urina, pois garante que o odor seja capturado pelas fendas e não evapore rapidamente.
Eles também gostam de deixar seu cheiro o mais alto possível, para maximizar o tamanho do “campo de odor e, para isso, os machos muitas vezes fazem um “tubinho” com a mão.
"Essas escolhas têm efeitos claros sobre o sinal deixado, fazendo com que ele dure mais, seja detectado de mais longe ou, de outra forma, melhore sua eficiência de comunicação", disse Ron Swaisgood, investigador do zoológico de San Diego envolvido no estudo, em um comunicado. "Não nos surpreende que os pandas sejam eficientes com o uso de sinais químicos, porque evidências crescentes sugerem que muitos aspectos da história de vida do panda gigante são limitados por sua dieta energicamente pobre".
Ta-ta-ta-ta-taravô
O ancestral mais antigo dos pandas gigantes, o Kretzoiarctos beatrix, foi encontrado bem longe da China, na Espanha. Os fósseis remontam a 11,6 milhões de anos, quando a área era úmida, moderadamente quente e florestal.
"O novo gênero que descrevemos neste artigo não é apenas o primeiro urso registrado na Península Ibérica, mas também o primeiro da linhagem do panda gigante", disse Juan Abella, paleontólogo do Museu Nacional de Ciências Naturais da Espanha, ao Live Science.
A julgar pelos dentes, era um omnívoro, mas possuía muitas características dentárias de ursos adaptados para comer vegetais resistentes, como o bambu. "Nós não sabemos se havia bambu na Espanha durante o Mioceno Médio, mas havia muitas outras plantas similares associadas a climas úmidos disponíveis para Kretzoiarctos".
Continua incerto se essa espécie era colorida como os pandas gigantes que conhecemos hoje, pois nenhum pelo sobreviveu tantos milhões de anos para contar a história. No entanto, Abella especula que a coloração primitiva deste grupo também era escura com pontos brancos, pois a maioria dos filhotes de urso tem essas cores — em muitos animais, os padrões biológicos vistos entre os jovens refletem o que seus ancestrais eram.
*Com supervisão de Nathan Fernandes.
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