Como uma cientista brasileira está lutando pela conservação do pirarucu
Quando se mudou do sul do país para o estado do Pará, a cientista Marilia Nunes logo se deparou com a questão que se tornaria o tema principal de pesquisa na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA): a conservação do pirarucu. Apesar de não estar na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, o peixe conhecido como o “gigante da Amazônia” se torna cada vez mais raro na região.
Isso foi há um ano e meio, quando a pesquisadora decidiu enfrentar o desafio de estudar formas de conservação e descobrir a biodiversidade da espécie Arapaima gigas na Amazônia. Desde então, ela chegou no meio do caminho de sua análise e, em outubro deste ano, foi uma das vencedoras do Prêmio “Para Mulheres na Ciência” da L’Oreal na categoria Ciências da Vida.
Como tinha experiência no sequenciamento de DNA de peixes nativos da região sul do Brasil, Nunes fez uma parceria com outro professor da UFRA para realizar o mesmo procedimento com o pirarucu. “Nosso projeto propõe uma avaliação da real situação das populações da espécie: qual é a situação genética e a variedade desses animais”, explicou ela à GALILEU após da cerimônia do “Para Mulheres na Ciência”, na sede da L’Oreal, no Rio de Janeiro. “Vários dos produtores de pirarucu relatam o desaparecimento da espécie na natureza. O problema disso é que, no momento em que houver uma diminuição da variedade genética desse animal, existe a chance da espécie entrar em extinção. Esse é o problema.”
Para a pesquisa, é necessário coletar um pedaço da nadadeira caudal dos peixes — “Não matamos o animal, ele continua na natureza, ou também podemos coletar de pescadores que os vendem em mercado público”, ressalta Nunes — e extrair o DNA dos animais. A partir de marcadores moleculares, a cientista e sua equipe conseguirão identificar as diferenças entre os peixes, o que lhes permitirá entender se há diversidade entre eles ou não. Caso a segunda possibilidade seja a verdadeira, o pirarucu corre risco de entrar em extinção em breve.
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No momento, o grupo está entrando em contato com pescadores da região do Pará e do Tocantins para realizar a coleta do material em breve — esse processo precisa acontecer até novembro, já que o período entre dezembro e março é o de reprodução do pirarucu, no qual a pesca dele é proibida. Segundo a cientista, a bolsa-auxílio no valor de R$ 50 mil que ganhou do programa da L’Oreal será essencial para financiar a visita de sua equipe aos pescadores.
Um dos objetivos do estudo é dar uma resposta à sociedade. “A grande sacada de um projeto de pesquisa é tentar resolver um problema que a comunidade está enfrentando. No nosso caso, estamos tentando preservar um animal que se encontra desaparecido. Queremos dar uma resposta à sociedade, mas precisamos que ela entenda isso”, afirmou a pesquisadora. Por isso, ela e seus colegas pretendem criar uma cartilha para conscientizar os locais da importância de ter conhecimento da diversidade genética das espécies de animais, de conservá-las e possivelmente criá-las em cativeiro.
Os recursos da natureza são finitos, mas muitas vezes os produtores e moradores da região dependem deles como recursos de sobrevivência. “Com essa cartilha, buscaremos incentivar a comunidade a se tornar produtora de peixe ou de outras espécies, para que não chegue a correr risco de extinção. A região amazônica também pode ser uma região de sustentabilidade, de manutenção da diversidade genética e, ao mesmo tempo, um local onde as pessoas consigam se manter”, afirmou a cientista. “Precisamos preservar a Amazônia, mas também as pessoas que estão inseridas nesse contexto.”
*A jornalista viajou à convite da L'Oreal
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