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A metafísica da Força em Star Wars

 (Foto: Reprodução)

 

Em uma cena de Star Wars: Os Últimos Jedi, Rey afirma: “Eu preciso de alguém que me mostre o meu lugar neste mundo”. Em outras palavras, ela busca o que todos os seres vivos buscam — e o que filósofos de vários períodos morreram sem conseguir alcançar uma resposta definitiva.

A obra de George Lucas oferece uma ideia de como podemos resolver este impasse através do conceito da Força. Segundo Obi-Wan Kenobi, a Força é “um campo de energia criado por todas os seres vivos, ela nos envolve e penetra. É o que mantém a galáxia unida.”

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Como afirma o psicólogo Marek McGann, da Universidade de Limerick, na Irlanda, os Jedi falam sobre a Força como um peixe falaria sobre um oceano. “Tudo o que um Jedi faz é imerso no fluxo das correntes e redemoinhos da Força”, escreveu McGann no livro Star Wars e a Filosofia.

Como toda a obra de Lucas, o esse conceito mistura uma série de referências. Ressignificando ideias emprestados de filosofias orientais e ocidentais, o Mestre Yoda, por exemplo, nos ensina que “seres luminosos nós somos, não essa matéria tosca” — nas palavras escritas em grande parte por Lawrence Kasdan (não por Lucas).

No episódio 8, o já velho Luke Skywalker ressurge com uma ideia que permeia toda a saga: o equilíbrio da Força. Ao afirmar que uma luz poderosa pressupõe a existência de uma escuridão poderosa, Luke faz menção ao Taoísmo, filosofia chinesa que tem como conceito chave o Tao (“caminho”) e que, assim como a Força, mantém a união do universo.

Nos textos centrais desta tradição chinesa, o criador Lao Tsé apresenta o conceito de yin e yang. ”Quando as pessoas veem algo como belo, a feiura é criada. Quando as pessoas veem algo como bom, o mal é criado”, escreveu Tsé. Ou seja, luz e escuridão dependem um do outro, elas se complementam. E é por isso que mesmo o maior dos Jedi carrega dentro de si a semente do mal (alô, Kylo Ren!).

Essa semente pode ser entendida como medo e apego. Quando Anakin perde sua mãe e começa a ter pesadelos sobre a morte de Padme, ele busca os conselhos de Yoda para aprender como lidar com o medo de perdê-las.

— O que devo fazer, Mestre Yoda?
— Treine-se para deixar ir tudo o que você tem medo de perder.

O conselho (que não era nada do que Anakin queria ouvir) vem direto do budismo. O Cânone Pali, umas das bases doutrinárias da filosofia budista, afirma que o medo da morte e da velhice é um impulso humano “perigosamente sedutor”.

Afinal, como lembra Yoda: “O medo é um caminho para o lado sombrio. Medo leva à raiva; raiva leva ao ódio; ódio leva ao sofrimento”. Segundo o texto budista, não se apegar aos seus desejos é a única forma de combater isso.

E Yoda mostra faz o que prega quando chega a hora de sua própria morte e ele a recebe com calma, serenidade e passividade, como todo Jedi deve ser. O antropólogo Ernest Becker, autor de A Negação da Morte, chamaria o mestre de “cavaleiro de fé” — termo emprestado do filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard.

Para Becker, acreditar em algo maior do que a morte é uma boa maneira de administrar nossos medos. Essa crença para Kierkegaard seria em Deus, já para Yoda seria no lado bom da Força. “A morte é uma parte natural da vida. Alegre-se por aqueles ao seu redor que se transformam na Força. Lamente-os não. Sua falta não sinta”, afirma o mestre.

Em sua obra, Becker chama atenção para o paradoxo das pessoas que desejam tão intensamente evitar a morte que acabam matando partes de si até serem consideradas mortas, mesmo quando ainda estão vivas. O ciborgue mal encarado e semi-zumbi Darth Vader poderia ser o maior exemplo disso.

A questão agora seria como treinar a mente para “deixar ir tudo o que você gosta”? E a resposta também vem das tradições orientais: meditação. A ideia de técnicas como o mindfullness, por exemplo, é que a pessoa seja capaz de observar seus próprios pensamento sem deixar se levar por eles. Talvez, com muita prática seja possível até chegar ao nível de Luke, em Os Últimos Jedi.

“Quando a pessoa resolve meditar, ela se dá conta de que a mente é como um macaco louco”, explica o monge Gen Kelsang Togden, diretor desta tradição para a América Latina. “Claro que a pessoa vai se frustrar na primeira tentativa e desiste exatamente por causa do problema que está tentando resolver.”

Mas os praticantes não devem perder a esperança. Afinal, como diz a General Leia, “a esperança é como o sol”. Se as pessoas só acreditam nela quando a veem, como vão aguentar a noite?

*Com informações do canal WiseCrack.

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