Por que a Siri ainda é menos esperta do que a concorrência
A Apple foi a primeira grande empresa a colocar uma assistente de voz em smartphones. Mas, seis anos depois, a Siri segue atrás da concorrência, com menos recursos e desempenho inferior.
Uma análise de assistentes por voz, feita com mais de 5 mil perguntas diferentes, mostra que a Siri responde corretamente apenas 62% das vezes, contra taxas de aproximadamente 90% no Google Assistant e Amazon Alexa.
O que aconteceu? Reportagens do Wall Street Journal e do Washington Post mostram que disputas internas, mudanças de estratégia e até o foco em privacidade fizeram a Siri ficar para trás.
Em 2012, a Apple contratou Bill Stasior — que trabalhava na Amazon — para supervisionar a Siri. No entanto, ele era mais experiente em buscas, em vez de fala ou linguagem, o que acabou definindo o foco da assistente. A visão original da Siri era expandir suas habilidades para aplicativos de terceiros; mas, em 2013, Stasior postergou um plano de fazer exatamente isso.
A essa altura, os cofundadores da Siri já haviam saído da Apple. Eles fundaram a Viv Labs e criaram uma assistente cujo principal foco é interagir com apps de terceiros. A startup foi adquirida pela Samsung no ano passado.
Quando a Apple enfim decidiu expandir a Siri para mais apps, em 2016, alguns desenvolvedores ficaram decepcionados. Ela oferecia comandos com alcance limitado: “as pessoas passaram de felizes e animadas a sentarem em workshops e perceberem, ‘eu não posso usar isso’… e voltaram-se para o Google e a Alexa”, diz o desenvolvedor Brian Roemmele ao WSJ.
Disputas internas só pioraram a situação. A Apple quis combinar duas equipes rivais — reconhecimento de fala e linguagem natural — em uma só para melhorar a capacidade de conversação da Siri. Isso criou uma briga interna envolvendo executivos de alto escalão, e o projeto foi transferido para outro líder sem experiência na área. Então, especialistas em reconhecimento de fala foram para outras empresas, como Google e Amazon.
Isso está mudando. No ano passado, a Apple contratou Russ Salakhutdinov, um renomado pesquisador de aprendizagem profunda; e apresentou seu primeiro estudo acadêmico sobre inteligência artificial. Isso ajuda a chamar a atenção de outros especialistas no ramo, facilitando contratações.
Privacidade
E há outro desafio: a privacidade. Enquanto Google e Amazon armazenam seus dados indefinidamente, removendo-os apenas sob pedido do usuário, a Apple os torna anônimos e os guarda por apenas seis meses. Além disso, ela costuma usar dados genéricos para treinar a Siri.
Com menos informações específicas do usuário, fica mais difícil tornar a Siri melhor. Pesquisadores dizem ao Washington Post que essa postura se torna um problema para quem está construindo inteligência artificial.
Por isso, a Apple vem apostando em formas de coletar mais dados do usuário seguindo um caminho diferente do Google e da Amazon. Isso é feito através da privacidade diferencial, que insere ruído nos dados para confundir invasores caso eles tenham acesso.
Por exemplo, quando o iOS reúne as fotos com o seu rosto, ela coleta diversas imagens para fazer o reconhecimento. No entanto, essas informações são criptografadas e misturadas com dados ruins, para impedir que elas sejam vinculadas a você.
Por muito tempo, o foco interno da Apple esteve bastante concentrado no iPhone, mas agora a Siri está recebendo mais atenção. No iOS 11, ela vai prever o horário que você deve sair para o trabalho, e analisar as notícias que você lê para sugerir artigos semelhantes e compromissos de agenda.
A Siri realmente precisa melhorar se quiser competir com outras assistentes no mercado, especialmente agora que ela é o centro do HomePod, alto-falante inteligente da Apple. A concorrência já é forte: temos o Amazon Echo, o Google Home, os alto-falantes com Cortana, e teremos até um dispositivo da Samsung com Bixby. Quem sabe agora a Siri deixe de ser basicamente uma interface para busca na web e se torne mais capaz.
Com informações: Wall Street Journal, Washington Post.
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