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Samsung DeX: um dock que transforma o Galaxy S8 em desktop (e peca no software)

Muita gente já tentou. Em 2011, o Motorola Atrix trazia a Lapdock, que transformava o smartphone em notebook. A Canonical também experimentou um Ubuntu Phone, que tinha hardware poderoso para rodar uma versão completa da distribuição Linux. O Continuum do Windows 10 Mobile é uma promessa desde 2015. Agora, a Samsung está chegando com o DeX.

O DeX é um dock que conecta o Galaxy S8 a um mouse, teclado e monitor para transformar o smartphone em desktop. Compacto, ele tem portas USB, HDMI e até Ethernet, além de uma ventoinha para resfriar o celular em tarefas mais pesadas. Será que é bom? Eu conto tudo nos próximos parágrafos.

Como funciona

A embalagem do DeX é a mais simples possível: ela traz o dock… e só. Não há cabo HDMI, USB-C ou mesmo adaptador de tomada, por isso, você precisa utilizar os acessórios que já vieram com o Galaxy S8 ou comprar novos se não quiser ficar mudando coisas de lugar a todo momento. O dock não é ativado se não estiver ligado a um carregador com potência suficiente para alimentar o celular e a ventoinha.

Com todos os acessórios em mãos, o processo de configuração é simples: basta ligar o Galaxy S8 na base deslizante do DeX, e um teclado, mouse e monitor ao dock. Duas opções serão oferecidas na tela do smartphone: iniciar o Samsung DeX ou espelhar a tela no monitor. Ao escolher a primeira, uma tela de inicialização aparece e, em alguns segundos, temos uma área de trabalho completa à disposição.

A interface do DeX é uma mistura de Chrome OS com Windows, trazendo ícones espalhados pela área de trabalho; uma barra inferior para alternar entre as janelas de aplicativos; e um menu com a lista de todos os softwares que podem ser executados no DeX. No canto inferior direito são exibidos o relógio, os indicadores de conectividade e os ícones de notificação; um clique ali expande a central de notificações.

A compatibilidade e as possibilidades de expansão do DeX atendem a maioria dos usuários: eu consegui utilizar meu teclado Bluetooth, um HD externo, um pen drive e um alto-falante sem fio, tudo ao mesmo tempo. O som fica por conta do (fraco) speaker do Galaxy S8 ou de um acessório Bluetooth, já que o conector de 3,5 mm para fones de ouvido é fisicamente inacessível enquanto o smartphone está conectado ao DeX.

O que é legal

A praticidade de alternar entre o modo smartphone e o modo desktop é inegável: basta conectar o Galaxy S8 ao dock e em segundos a área de trabalho é iniciada, com os mesmos aplicativos que você utiliza no Android e mantendo os arquivos, fotos e contas que já foram salvos anteriormente. A rede celular continua ativa para receber ligações telefônicas e mensagens de texto.

Como estamos falando de um aparelho com memória flash e bom poder de processamento, tanto o modo desktop quanto os aplicativos não demoram para abrir; o desempenho é praticamente o mesmo que na telinha e melhor que o de muito PC por aí. Eu só senti algum engasgo nas animações quando havia muitos aplicativos abertos e uma certa lentidão no navegador da Samsung para renderizar sites pesados.

O modo desktop da Samsung nada mais é do que o Android com uma interface adaptada, o que traz algumas exclusividades do smartphone. O WhatsApp, por exemplo, é o nativo, dispensando o WhatsApp Web. O aplicativo do Instagram permite enviar fotos, sem fazer nenhuma gambiarra. E alguns jogos que só existem para dispositivos móveis podem ser controlados por mouse e teclado em uma tela grande.

Uma parceria com a Microsoft fez muito bem ao DeX, que roda versões do Word, Excel e PowerPoint adaptadas ao modo desktop. Além disso, a integração com Citrix, VMware e Amazon permite que profissionais executem aplicações mais específicas, como um software de gerenciamento, em máquinas virtuais na nuvem, o que abre possibilidades para que empresas explorem a tecnologia.

O que não é legal

Até por ser uma interface adaptada, não um sistema operacional novo, você tem as mesmas limitações de um Android rodando no smartphone. O principal problema é o multitarefa, que engana pelo visual: várias janelas são exibidas ao mesmo tempo no desktop, mas os aplicativos em segundo plano ficam suspensos, como aconteceria em um celular.

Isso fica mais claro, por exemplo, ao assistir a um vídeo pelo YouTube: se você alternar para outro aplicativo, o vídeo é pausado automaticamente. O Slack, aplicativo que utilizamos para comunicação interna, também não funciona em segundo plano, e a janela de mensagens é sempre recarregada quando alterno para ele, prejudicando a produtividade.

Além disso, a maioria dos aplicativos não está adaptada para funcionar em telas grandes. Facebook, Trello, Todoist, Messenger, Instapaper, Pocket Casts e vários jogos são meras janelinhas em modo retrato que não podem ser redimensionadas. O resultado, no final do dia, é um monte de janelas espalhadas pelo monitor que exibem pouco conteúdo. A melhor opção acaba sendo acessar os mesmos serviços pelo navegador.

E isso revela outro problema: o Chrome insiste em carregar versões móveis de sites e, muitas vezes, tenta abrir aplicativos associados a determinado domínio — clique em um link que leva para o trello.com e veja o aplicativo surgindo na sua frente, do nada. A solução é utilizar o navegador da Samsung, que até funciona bem e carrega versões para desktop, mas não importa os favoritos, históricos e senhas do Chrome.

A experiência ruim do Android em tablets se reflete no DeX, que se limita a exibir interfaces esticadas nos aplicativos que possuem janelas redimensionáveis, como é o caso do Twitter. E nem pense em utilizar o DeX como central de mídia para colocar suas séries da Netflix em dia: os vídeos são exibidos em uma pequena janela no meio da tela e não podem ocupar a tela inteira.

Breakneck vira apenas uma janelinha sem graça no meio da tela

O único aplicativo que não abriu é também um dos que mais utilizo. O desktop mostra a mensagem de que o “Spotify não pode ser executado no Samsung DeX; tente executá-lo no modo de telefone”. No entanto, como os aplicativos são fechados automaticamente quando o Galaxy S8 é conectado ao DeX, na prática, é impossível utilizar o serviço de streaming; a versão web também não pode ser acessada.

Procurada pelo Tecnoblog, a Samsung informou que o “Spotify não suporta a resolução Full HD utilizada no DeX”, sem citar detalhes. A explicação faz pouco sentido porque o aplicativo já funciona em smartphones e tablets Android com qualquer resolução de tela.

Também conversei com a assessoria do serviço de música, que não explicou a limitação, nem deu prazo para que o Spotify comece a funcionar no modo desktop do Galaxy S8. A solução foi apelar para o Deezer, que já está incluso no meu plano de celular (e seria uma boa opção se não fechasse sozinho depois de alguns minutos de trabalho).

Conclusão

O DeX é um hardware bom que fica limitado pelo software cru.

Do ponto de vista do consumidor comum, o produto da Samsung falha em oferecer uma experiência sólida, apresentando um multitarefa restrito e aplicativos limitados. Ele ainda não está pronto para substituir um PC comum — enquanto um smartphone é tipicamente monotarefa, com um aplicativo sendo utilizado por vez, a natureza de qualquer sistema para desktop é ter vários aplicativos rodando ao mesmo tempo.

Já para o público corporativo, além das limitações de um sistema para smartphone, o problema recai sobre o custo. Dispensa-se um gabinete de PC, troca-se por um acessório de R$ 649 que exige um smartphone de R$ 3.799 para funcionar (e que faz menos que um gabinete de PC). Os gastos com monitor, teclado, mouse e cabos continuam existindo, portanto, o DeX acaba sendo mais caro que apelar para o tradicional.

O DeX, se pensado friamente como um mero dock de plástico com ventoinha, que não tem capacidade de processamento ou memória próprios, é caro demais até no mercado americano, onde custa US$ 149. Isso é o preço de um Chromebook de entrada que, aliás, já vem com teclado físico e uma tela grande de “brinde”.

Fica claro que o DeX é um primeiro passo e, mais do que isso, um experimento da Samsung — mas tantas empresas já tentaram emplacar produtos semelhantes que fica difícil acreditar que algum deles dará certo. No final das contas, o Galaxy S8 com DeX é apenas um celular conectado a um mouse, teclado e monitor. E colocar manches e manetes em uma Ferrari California não a transforma em um Boeing 777.

Samsung DeX: um dock que transforma o Galaxy S8 em desktop (e peca no software)

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