A megaoperação que fechou dois dos maiores sites de drogas da dark web
O desmantelamento do Silk Road, em 2013, não acabou com o mercado negro na dark web. Não demorou muito para Alphabay e Hansa se tornarem as principais plataformas de vendas de drogas, armas e outros produtos ilegais. Mas esse reinado também acabou: FBI, Europol e autoridades de vários países conseguiram fechar os dois sites.
Vende-se de tudo
Para os padrões da dark web, o Alphabay era realmente grande. As autoridades estimam que o site, que surgiu em dezembro de 2014, tinha mais de 40 mil vendedores que comercializaram ali mais de 250 mil itens relacionados a drogas ou substâncias ilícitas, além de pelo menos 100 mil produtos que incluíam documentos roubados, malwares, números de cartão de crédito e armas de fogo.
Não está claro exatamente quanto dinheiro o Alphabay movimentava, mas Nicolas Christin, pesquisador da Universidade Carnegie Mellon e especialista em deep web, estima que a receita diária do site variou entre US$ 600 mil US$ 800 mil em 2017.
As operações do Hansa eram mais simples, mas não menos importantes. O Alphabay deixou de funcionar em 5 de julho e, com isso, muitos usuários do site migraram para o Hansa. O que eles não sabiam é que policiais estavam por ali desde 20 de junho, na espreita. A consequência é que o Hansa também caiu, não sem antes as autoridades coletarem mais dados graças à migração em massa.
Um erro de amador
Além da lacuna deixada pelo Silk Road, o que ajudou o Alphabay a se tornar um poderoso mercado negro foi a aplicação de um conjunto pequeno de regras. Com isso, os vendedores tinham mais liberdade para oferecer uma gama enorme de produtos ilegais.
Era óbvio, consequentemente, que o site movimentava grandes somas de dinheiro. Por conta disso, várias pessoas tentaram identificar os responsáveis pelo Alphabay para chantageá-los. Fala-se até que pagamentos em bitcoins foram feitos para alguns chantagistas, embora não haja confirmação.
Mas não foi isso que levou ao fim do Alphabay. De acordo com os investigadores, o líder das operações cometeu um erro primário: o endereço pimp_alex_91@hotmail.com foi encontrado no cabeçalho das mensagens de boas-vindas e recuperação de senhas que o site enviava no final de 2014, quando começou a operar.
A polícia também descobriu que o email foi usado para cadastro em um fórum e até no LinkedIn. Com essas informações, eles conseguiram confirmar a identificação do responsável: Alexandre Cazes, um canadense de 26 anos. A partir daí, as autoridades só precisaram monitorá-lo.
Durante as investigações, a polícia descobriu que Cazes tinha pelo menos três casas e era dono de um Lamborghini. O seu perfil no LinkedIn (já apagado) o colocava como dono de uma empresa chamada EBX Technologies. Não está claro, porém, se ele realmente exercia alguma atividade prioritária nessa companhia ou se tudo não passava de um “teatro” para mascarar o seu trabalho real.
Obviamente, Cazes passou a ser rastreado. Com a atuação do FBI, DEA e autoridades de países como Holanda, Alemanha e Lituânia, o canadense foi localizado na Tailândia e preso pela polícia local no dia 5.
No momento em que as autoridades chegaram em sua casa, Cazes estava acessando o Alphabay com permissões de administrador. Graças a isso, o FBI conseguiu encontrar diversos documentos e senhas de acesso aos servidores do site. Entre os arquivos encontrados, os investigadores também descobriram registros que indicavam quanto Cazes acumulou com os seus negócios: pouco mais de US$ 23 milhões, incluindo os bens em seu nome e quantias em criptomoeda.
Não teve escapatória: Alexandre Cazes foi detido e acusado de tráfico de drogas, roubo de identidade, fraude e lavagem de dinheiro. Como é de se esperar, o governo dos Estados Unidos pediu a extradição dele. Mas não houve tempo: uma semana após a prisão, Cazes foi encontrado morto em sua cela, com fortes indícios de suicídio.
Fim da linha também para o Hansa
Com o fim repentino do Alphabay, milhares de vendedores e compradores correram para o Hansa. Há informações de que o fluxo de novos usuários fez o tráfego do site aumentar de oito a dez vezes. Mas era uma cilada: a plataforma vinha sendo vigiada há meses e, desde 20 de junho, estava sob controle da polícia. Os servidores do Hansa foram localizados na Holanda.
A Europol não detalhou a operação porque o caso ainda está sob investigação: o foco do trabalho não visa apenas localizar os fornecedores do Hansa, mas também os principais compradores. A polícia conseguiu colher dados de pelo menos 10 mil deles. Cerca de 500 já estão sendo investigados.
De todo modo, dois dos administradores do Hansa foram presos na Alemanha. O site, é claro, já não funciona mais.
Agora, a pergunta não é nem se substitutos para o Alphabay e o Hansa irão surgir, mas quando. As autoridades sabem disso, mas tentam enfatizar que nenhum deles estará a salvo. Durante a conferência de imprensa sobre o caso, Jeff Sessions, procurador-geral dos Estados Unidos, chegou a dizer que “a dark web não é um lugar para se esconder”.
Com informações: Motherboard, The Next Web, Yahoo Tech
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