Secas devem ficar mais rigorosas no Brasil até 2099, aponta estudo
Nas próximas décadas, o país deve enfrentar períodos de estiagem com mais frequência e gravidade. A afirmação é resultado de um estudo realizado pelo WWF-Brasil, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério da Integração, e com apoio da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ).
Nomeada de Índice de Vulnerabilidade aos Desastres Naturais relacionados às Secas (IVDNS) no Contexto das Mudanças do Clima, a pesquisa também apontou que o Centro-Oeste é a região que mais irá sofrer com o fenômeno.
Para André Nahur, coordenador de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil, o problema merece atenção urgente porque o Brasil já enfrentou períodos de seca. “Até 2099 o Centro-Oeste pode perder 25% dos recursos hídricos, e o Nordeste 30%”, fala. “É também uma questão de segurança pública e qualidade de vida.”
Segundo o coordenador, o processo de estiagem está relacionado, principalmente, à três fatores. O primeiro é a emissão de gases efeito estufa que aumentam a temperatura do planeta. Depois, vem o desmatamento e as variações de uso dos solos. Por último, estão as atividades que consomem bastante água e acabam alterando os recursos hídricos disponíveis.
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“O desmatamento na Amazônia impacta diretamente nas chuvas do Centro-Oeste porque a massa úmida desce”, explica Nahur. “O modo de vida contemporâneo, o uso de transporte e consumo de carne também influenciam as condições climáticas.”
Dentro das questões do clima, o coordenador destaca o aquecimento global. “Existem projeções para o Brasil que dizem que a temperatura pode aumentar entre 3 e 4 graus, além do que já aumentou”, diz. “Isso gera impacto em vários setores, como na produção de energia e alimentos.”
Metodologia
O diagnóstico foi pensado para calcular o nível de vulnerabilidade dos municípios brasileiros em relação aos problemas de estiagem. Para que o estudo fosse mais completo, os pesquisadores decidiram analisar três tópicos: condições climáticas, socioeconômicas e físico-ambiental das regiões.
Eles tomaram como referência três períodos: 2011 a 2040, 2041 a 2070 e 2071 a 2099. Para cada intervalo de tempo, eles criaram dois cenários, sendo que um era mais otimista e o outro pessimista.
"Como os impactos climáticos são cumulativos, o mais alarmante sempre vai ser até o final do século, porque já acumulou os dois períodos anteriores", esclarece Nahur. No entanto, ele ressalta que é mais importante dar atenção ao primeiro período, que vai até 2040. “Temos que olhar no curto prazo para tomar ações imediatas para resolver essas vulnerabilidades.”
Objetivos
De acordo com Nahur, a pesquisa teve como intuito contribuir com políticas públicas para os governos em diferentes esferas. Além disso, o estudo pode ajudar no Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), lançado em 2016.
“Queremos colocar dentro da pasta pública questões como restauração florestal, criação e manutenção de reservatórios de água e consumo mais racional”, fala. “Além de implementar iniciativas de captação de água da chuva em regiões mais suscetíveis à seca.”
* Com supervisão de Nathan Fernandes
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