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'Atômica' e a representação de mulheres espiãs no cinema

Atômica estreia no Brasil nesta quinta-feira (31) (Foto: Divulgação)

 

Em 1989, pouco antes da queda do Muro de Berlim, a agente Lorraine Broughton é convocada pelo MI6, serviço secreto britânico, para ir à capital da Alemanha recuperar uma importante lista que caiu nas mãos dos espiões da KGB.

Ao som de músicas dos anos 1980 e sob tons de neon, a protagonista de Atômica, filme de David Leitch (Deadpool 2), que estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira (31), chega na cidade pronta para o combate e com zero vontade de fazer novos amigos. Baseado nos quadrinhos Atômica: A Cidade Mais Fria (Darkside Books, 176 páginas), o longa é estrelado por Charlize Theron (Mad Max: Estrada da Fúria) e James McAvoy (X-Men).

No universo do filme, ser um espião é brutal: é necessário estar o tempo todo atento, pronto para duras sequências de luta e duvidar de tudo e todos. Broughton intensifica esses passos, driblando aqueles que cruzam seu caminho e ficando sempre um passo à frente dos que a subestimam por ser uma mulher.

Charlize Theron em Atômica (Foto: Divulgação)

 

A personagem de Charlize Theron se destaca por fazer parte da minoria de protagonistas femininas em longas sobre espionagem. Dos cem filmes mais populares sobre o assunto, segundo o IMDb, somente 13 possuem protagonistas mulheres — foram excluídos da conta produções que contam com um casal principal, como Sr. e Sra. Smith (2004). 

 (Foto: Feu/Revista Galileu)

 

O tratamento que as personagens dessa pequena parcela recebe nos filmes é, além de tudo, estereotipado. Em muitas das produções, o corpo e a sexualidade são os principais (por vezes, os únicos) atributos destacados nas mulheres espiãs. Em Bonecas que Matam (1967), por exemplo, o espião Hugh Drummond faz com que mulheres belas usem e abusem de sua sensualidade para assassinar seus alvos. Já em As Panteras (2000), as três detetives, quando não estão fantasiadas de tirolesas alemãs sensuais, fazem striptease para distrair suas vítimas.

As protagonistas de As Panteras (Foto: Divulgação)

 

No livro Female Chauvinist Pigs (sem edição em português), a jornalista Ariel Levy escreve que "porcos chauvinistas" é o termo utilizado para classificar homens que tratam mulheres como pedaços de carne. De acordo com ela, com filmes como os citados acima, no entanto, o contrário também poderia ser utilizado: “Porcas chauvinistas: mulheres que veem a outras e a si mesmas como objetos sexuais”.

Jason Bourne, Ethan Hunt e James Bond jamais seriam reduzidos a uma representação como essa. Os personagens, no entanto, não dispensam coadjuvantes femininas cujas identidades não importam, desde que sejam jovens e belas — os três espiões, juntos, somam nove companheiras de espionagem diferentes. Nesses casos, mesmo que também sejam espiãs, as mulheres são substituíveis e, por vezes, só servem como uma garantia de progressão da narrativa dos homens.

Lorraine Broughton, então, faz parte de uma parcela ainda menor: a de mulheres espiãs que conseguem protagonismo em suas próprias narrativas. Entre elas, se destacam Maya, a agente do serviço secreto norte-americano que ajuda na captura de Osama bin Laden em A Hora Mais Escura (2012) e a adolescente Hanna, personagem principal do filme de mesmo nome (2011), cujo gênero e idade não são barreiras para que ela saiba se proteger e lutar por si mesma.

Jessica Chastain em 'A Hora Mais Escura' (Foto: Divulgação)

 

Assim como as mulheres que as assistem, elas são mais do que seus corpos ou o que os homens as dizem para ser — e merecem bem mais do que apenas 13%.

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