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'Uncharted: The Lost Legacy': o que achamos do novo jogo

Agora Nadine Ross e Chloe Frazer dão as cartas entre os perigos e mistérios da franquia Uncharted (Foto: Divulgação)

 

Talvez no início, a saga Uncharted apenas quisesse ser um ótimo jogo de ação, com enredo explosivo, personagens bem construídos, sequências cinematográficas e um fascinante mundo a ser explorado. E Drake’s Fortune cumpriu bem esse papel quando lançado para o Playstation 3 em 2007. Com a ambição de encontrar o tesouro perdido de El Dorado, o protagonista e ladrão Nathan Drake não apenas apresentou o cartão de visitas para a então nova geração de consoles, como também marcou o início da ascensão absoluta da Naughty Dog dentro da indústria dos games. Só que naquele universo de riquezas sagradas, tumbas amaldiçoadas e histórias de um passado quase esquecido havia algo além. Um propósito que cresceu em Among Thieves (2009) e Drake’s Deception (2011), amadureceu em A Thief’s End (2016) e agora surge autossuficiente em Uncharted: The Lost Legacy.  O desconhecido.

A franquia sempre se moldou a imagem e semelhança de seu anti-herói descendente do capitão inglês Francis Drake – tanto que amarrou sua história de maneira tão primorosa que é difícil não se emocionar com o final do quarto e último capítulo da saga de Nath, junto à esposa, Elena, e a filha, Cassie. Contudo, o universo em si da franquia se tornou tão complexo, orgânico e onipresente, que colocá-lo em um baú de lembranças após a aposentadoria de seu principal personagem seria complicado. E foi. Tanto que The Lost Legacy, inicialmente planejado como um DLC de A Thief’s End, ganhou corpo, identidade própria e, mais que um simples standalone, tornou-se um jogo completo na essência.

Se já causam juntas...
Ambientado na exótica península da Índia, o game apresenta uma nova cara sob o comando do jogador – mas muito conhecida pelos fãs há anos: Chloe Frazer. Não vista desde os acontecimentos de Drake’s Deception e simbolizando a contraparte de Nathan em Among Thieves, a ladra indiana surge com a missão de encontrar a preciosa Presa de Ganesha, artefato milenar que teria sido arrancado do próprio filho do deus Shiva. Já ao seu lado, Nadine Ross, antagonista do game anterior, aparece como parceira da missão, em uma aliança construída sob a instável honra entre ladrões – ou melhor, ladras. E é isso que torna a química entre elas tão fluída e natural. Enquanto Frazer se prende a um débito de família, Ross, felizmente, ainda vê tudo como um rentável negócio – o que mantém, em parte, a sua personalidade mercenária vista em Uncharted 4. Aqui ela não é a vilã, mas nem por isso é rodeada de graça e boas intenções.

Claro que os puzzles não ficaram de fora e se mostram criativos - embora fáceis (Foto: Divulgação)

E falando nisso, o antagonismo fica por conta de Asav, insurgente local que, baseado em seu complexo egocêntrico e um falso direito divino, pretende usar a relíquia milenar como moeda de troca em sua revolução sem propósito. Mas embora seja legal encará-lo com o seu perfil esnobe, atrelado a frases edificantes sobre a purificação do mundo, o personagem não foge do clichê “sádico, paranoico e niilista” registrado em tantos outros vilões do tipo. Mesmo assim, como o importante é o trajeto, e não o destino, Asav até fica em segundo plano quando o jogador se vê em frente a uma região que pulsa redescoberta em cada traço de seu mapa.

Pare, contemple, siga
Uncharted: The Lost Legacy é o game mais bonito da franquia – mesmo com o visual arrebatador de A Thief’s End, apoiado no poderio gráfico do Playstation 4. Vagando pelo interior indiano, o jogador se depara com um passado rico em cores, que abriga templos místicos, cidades secretas, artefatos preciosos e uma flora que reivindica o seu domínio sobre civilizações antigas.

Como de costume, a Naughty Dog cria um jogo detalhista, que se mostra presente em cada nova ambientação do enredo. Ver a paisagem natural sobre um rochedo é tão hipnotizante quanto acompanhar os meandros de um rio ou cada novo centímetro de câmaras recém descobertas. Sem falar na imponência de cenários que explodem na tela e fazem perceber a fragilidade das personagens em meio ao já citado desconhecido. 

Fora isso, o jogo segue a boa tradição do estúdio em construir uma aparente dinâmica de mundo aberto, quando na verdade trabalha caminhos pré-determinados. No entanto, The Lost Legacy foge à regra em parte do enredo e apresenta um cenário sandbox que pode ser explorado a bel-prazer do jogador. Suas dimensões podem não ser relevantes perto de outros games com essa proposta, mas abre novos caminhos para uma franquia que prima a exploração.

A imponência e beleza dos cenários são uma das maiores qualidades em The Lost Legacy (Foto: Divulgação)

 

Trouxe tudo na mala?
Na missão de encontrarem a Presa de Ganesha enquanto sobrevivem à milícia de Asav, as protagonistas têm em mãos ferramentas conhecidas. Assim, tanto a corda com gancho como a picareta para superfícies porosas são importantes no acesso a lugares difíceis. Já o armamento disponível é fundamental para sobreviverem a horda de milicianos. Nesse caso, mais de 20 tipos de armas (dividas entre pistolas, armas primárias, pesadas e raras) estão presentes para o fogo cruzado – sem falar nas granadas e C4 que dão uma mãozinha nos momentos mais complicados. Além disso, Chloe tem a inédita habilidade de destrancar portas e baús em poucos segundos. Uma capacidade que se mostra necessária em pouco tempo.

Já no quesito exploração, o título presenteia Frazer com o Rubi da Rainha, uma pulseira presa ao seu pulso, que brilha quando próximo de um tesouro escondido. Mas caso o jogador não queira essa ajuda na hora de procurar todos os artefatos do game, sem problema. Para ter direito à peça é necessário recuperar todas os discos hoysalas espalhados naquele pequeno mundo aberto. 

The Lost Legacy também apresenta boas sequências de tiroteios e combates corpo a corpo (Foto: Divulgação)

 

Quem ajuda pode atrapalhar
É inegável a destreza da Naughty Dog em criar um jogo empolgante, com sequências de ação que tiram o fôlego, atreladas a bons combates corpo a corpo e intensos tiroteios. Porém, certos detalhes do game prejudicam a suspenção de descrença para com as protagonistas que, igual Nathan, desafiam os limites da física com suas habilidades. Então, não é raro ver Chloe saltar errado, mas no meio do caminho ‘ganhar’ um impulso vindo do nada, fazendo-a chegar ao outro lado são e salva.

Também, em meio a troca de tiros, não é incomum o game manter os inimigos abatidos, mortos, mesmo com a ‘derrota’ da personagem e o reinício do confronto. Saber que não há necessidade de enfrentá-los após ‘ressuscitar’ dilui a dificuldade da trama – que já não é tão grande até mesmo com relação aos puzzles, resolvidos em poucos minutos. Felizmente, os problemas são pontuais e não atrapalham o desenrolar do game, que preza pela aventura e conduz o jogador sob um ritmo intenso de aventura à la Indiana Jones.

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A herança
Entre o início do desenvolvimento de The Lost Legacy (após o lançamento de Uncharted 4 em maio de 2016) e a chegada da obra às lojas, o estúdio criou em pouco menos de 18 meses um jogo digno de figurar entre os melhores do ano. E indo além, não apenas mostrou que a franquia pode sobreviver sem a presença de Nathan Drake (que ‘marca presença’ no game de maneira sucinta), como enaltece a melhor qualidade da saga iniciada há 10 anos: o seu mundo rico em surpresas e perigos.

Claro que não ver Drake com todo o seu carisma e falta de noção jocosa faz falta, mas o grande personagem da Naughty Dog apresentou aos jogadores um universo no qual qualquer um pode ser o herói (ou ladrão) da vez. E chegou a hora de Chloe e Nadine, duas personagens extremamente fortes e representativas (a primeira nasceu fora do eixo Estados Unidos/Europa e a segunda é negra) resgatarem a herança de Uncharted e trilharem os caminhos das riquezas e perigos. E nem será preciso encontrar o X do mapa para fazer isso.
Pode descansar, Nathan. O seu legado está em boas mãos.

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