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Catarina, a dama da Reforma Protestante

 (Foto: Ilustração: Leandro Lassmar)

 

Os pais da alemã Catarina von Bora a colocaram em um convento quando ela tinha cinco anos de idade. Dezenove anos depois, ela e outras freiras escaparam do local e se juntaram ao ex-monge agostiniano Martinho Lutero, que abandonara a batina após publicar suas 95 Teses — obra que criticava o catolicismo da época e foi fixada na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha. Em 1525, von Bora e o líder da Reforma Protestante se casaram, em um ato que marcou o rompimento definitivo com os dogmas e ritos da Igreja Católica.

De acordo com a historiadora norte-americana Ruth Tucker, o protestantismo não teria seguido adiante se não fosse a ex-freira. No livro A Primeira-Dama da Reforma: A Extraordinária Vida de Catarina von Bora (Editora Thomas Nelson, 221 páginas, R$ 25,90), a pesquisadora afirma que Catarina — ou Caty, como é chamada por Tucker — foi a segunda pessoa mais importante da Reforma. “Acredito que Martinho Lutero teria desmoronado sem Catarina”, diz ela em conversa com a GALILEU. “Se ele não tivesse se casado com Caty, que o ajudou a se manter fisicamente e mentalmente estável, é possível que a Reforma Protestante tivesse feito acordos com a Igreja Católica, tornando o protestantismo bem diferente do que o conhecemos hoje.” Neste ano, os cristãos que professam a tradição protestante comemoram os 500 anos da publicação das 95 Teses de Lutero.

Por que decidiu escrever um livro sobre a história de Catarina von Bora?

Estudei a história das religiões durante muitas décadas e, por muito tempo, achei que Caty fosse apenas a esposa de Martinho Lutero. Entretanto, há aproximadamente um ano, comecei a analisar a Reforma Protestante com mais afinco e descobri algumas coisas que não sabia. Para mim, ela é a figura mais importante da Reforma Protestante depois de Lutero.

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O que a faz pensar que Catarina foi uma mulher à frente de seu tempo?

Sem Caty, Lutero não teria conseguido levar a Reforma adiante como fez. Eles se casaram em 1525, uma época muito importante para a Reforma — tenha em mente que Lutero já escrevia coisas relevantes sobre a fé desde pelo menos 1515. Em 1517, ele pregou as teses; e em 1521, precisava se casar. Lutero poderia ter se unido a qualquer uma, mas escolheu Catarina von Bora, uma das únicas freiras que fugiram do convento e que ainda não tinham se casado ou voltado para a casa da família.

Não foi um caso amoroso, mas foi uma escolha que fez toda a diferença no final. Ela era uma mulher muito forte, e Lutero, um homem física e mentalmente fraco. No início dos anos 1520, ele estava lidando com depressão, não era um homem mentalmente estável. Acredito que nenhuma outra mulher além de Caty teria conseguido ajudá-lo a chegar à velhice. Ela insistiu para que eles começassem um negócio, que veio a ser um hotel, e comprou fazendas e terras. O casamento progrediu conforme o tempo passou. Não foi por amor, e sim por conveniência — mas eles se amavam.

Apesar da importância de Catarina von Bora para a Reforma Protestante, poucos pesquisadores dedicaram estudos à história dela. por quê?

Outras pessoas a estudaram, mas nunca li um livro que ressaltasse a importância dela além de ter sido esposa de Lutero. Tendo dito isso, acho importante destacar que acredito que ela nunca tenha se convertido às crenças da Reforma, o que nunca foi levantado por pesquisadores antes. Sabemos que ela entrou no convento aos cinco anos e escapou com outras 11 freiras anos depois.

Foi um grande rompimento, já que ser freira é como se casar com Jesus e fugir equivale a pedir o divórcio. Ainda assim, não há evidências de que Catarina tenha dito coisas ruins sobre o catolicismo ou que tenha se convertido ao protestantismo. Ela deixou de ser religiosa, tornou-se secular e ficou conhecida por ser uma mulher de negócios. Enquanto as outras freiras escreveram sobre a vida horrível do convento, Caty escolheu o silêncio — e o silêncio pode significar muito.

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