Declínio do Antigo Egito começou com erupções vulcânicas, aponta estudo
A morte de Cleópatra VII em 30 a.C. fez com que o milenar império egípcio chegasse ao fim após vários anos de fome, instabilidade interna e assédio dos romanos. Mas um novo estudo sugere que um fator muito importante, até então desconhecido, foi crucial para o fim do Antigo Egito: as erupções vulcânicas.
No verão de 44 a. C. o rio Nilo, base da sociedade naquela parte do mundo, não inundou como deveria, prejudincando as colheitas. Consequentemente, não havia como alimentar as pessoas, preencher os celeiros dos sacerdotes ou pagar impostos. A nova pesquisa mostra que algumas eurpções vulcânicas, mesmo que londe dali, interferiram na dinâmica do rio — e foi exatamente isso que aconteceu durante o reinado de Cleópatra.
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Os especialistas explicam que, quando havia uma erupção em alguma região do hemisfério norte, como a Islândia, ou em locais como o Círculo de fogo do Pacífico, a quantidade de chuvas no Nilo e em sua bacia diminuiam.
"As erupções vulcânicas lançam grandes quantidades de gases do enxofre na estratosfera, onde se oxidam em pequenas partículas, o sulfato, que são muito boas em refletir a luz solar incidente do espaço. E então temos o refriamento, menos evaporação e menor potencial de chuva", explica Francis Ludlow, principal autor do estudo, segundo o El País.
Além disso, se o evento ocorria no hemisfério norte, o resfriamento dessa parte do globo poderia empurrar para o sul a conhecida Zona de Convergência Intertropical (onde se encontram os ventos de ambos os hemisférios). Isso faria com que os ventos da monção (que levam chuvas) não chegassem ao planalto etíope, onde o Nilo Azul enchia de água.
O estudo foi produzido com o cruzamento de informações metereológicas e o que se sabia sobre o Egito até então. "Essa é a beleza desses registros climáticos. Pela primeira vez, você pode realmente ver uma sociedade dinâmica no Egito, não apenas uma descrição estática de um monte de textos em ordem cronológica", diz Joseph Manning, da Universidade de Yale, em anúncio da pesquisa.
O monumento conhecido como al-Miqyas, ou o Nilômetro islâmico, também foi muito útil. A peça artística guarda registros valiosos dos picos de verão do Nilo desde o início do século 7, o que viabilizou a criação de relações entre o fluxo do rio e os anos em que houve uma erupção em algum lugar do planeta.
É claro que as causas naturais não foram as únicas responsávies pelo declínio do império egípcio. O sucesso dos romanos, que estavam marchando por toda Europa e Mediterrâneo, também o impactou.
Mas a falta de chuvas não ajudou em nada o governo de Cleópatra VII, ainda porque, segundo Ludlow, "quando a enchente do Nilo era boa, o Vale do Nilo era um dos lugares mais produtivos da agricultura do mundo antigo".
Ptolemeu III
Registros mostram que os vulcões já interferiam na dinâmica egípcia há muito tempo antes de Cleópatra VII.
Após uma campanha militar de sucesso contra o Império Selêucida, centrado na atual Síria e no Iraque, o então governante, Ptolomeu III, decidiu voltar para casa. Isso ocorreu em 245 a.C. e, para Manning, "mudou tudo sobre a história do Oriente Próximo".
O historiador romano Justino escreveu sobre o caso, dizendo que se o imperador não tivesse tido "problemas em casa, ele se tornaria mestre de todos os dominios de Seleuco". Após o estudo, entende-se que na época o Nilo também cresceu menos que o esperado, tudo indica que por conta de uma erupção.
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