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O quadro mais caro da história é uma farsa?

Salvator Mundi. O Salvador do Mundo. Jesus Cristo. Leonardo da Vinci. Um leilão. Várias ofertas. 450 milhões de dólares. Uau! O quadro mais caro da história. Uma farsa. Uma farsa? Sim. Pelo menos é o que alguns críticos andam dizendo na imprensa internacional, contrariando alguns especialistas que afirmam categoricamente que esse é um dos pouquíssimos quadros finalizados pelo mestre do Rinascimento lombardo.

Um dia antes de a pintura ir a leilão na Christie’s na última quarta-feira, o crítico de arte da New York Magazine, Jerry Saltz, escreveu um artigo contestando a autenticidade da obra. “Várias técnicas de raio-X mostram arranhões e ranhuras no trabalho, tinta faltando, uma tela empenada, uma barba aqui e que desapareceu, além de outras partes do quadro que foram obviamente retocadas e corrigidas para fazer essa provável cópia se parecer mais com o original”, afirma.

Saltz diz ainda que, durante quase seus 50 anos como crítico, “uma olhada para este quadro me diz que isso não é um Leonardo”. “Sua superfície é inerte, envernizada, lúgubre, esfregada e repintada tantas vezes que parece simultaneamente nova e velha. Isso explica por que a Christie´s o define com termos vagos como ‘misterioso’, preenchido com uma ‘aura’, e algo que ‘pode se tornar viral”, complementa.

E ele não está só no questionamento sobre autenticidade. Em um artigo publicado no The New York Times, o crítico Jason Farago pergunta se o que foi comprado foi o quadro ou a marca “da Vinci”.

O crítico complementa: “não sou o homem para afirmar ou rejeitar sua atribuição; o quadro é aceito como um Leonardo por muitos acadêmicos sérios, embora não todos. Posso dizer, contudo, o que eu senti ao olhá-lo quando me coloquei entre a multidão que ficou na fila por uma hora ou mais para contemplar e fotografar infinitamente o ‘Salvator Mundi’: uma proficiente, mas não especialmente distinta, pintura religiosa da virada do século 16 na Lombardia, submetida a um espremedor de restaurações”.

O quadro atribuído a Leonardo da Vinci foi criado possivelmente por volta de 1500 e foi parar na coleção do rei Carlos I, da Inglaterra.  Desapareceu dos inventários por volta de 1700 e retornou em meio ao último século, em uma mansão em Richmond, nos Estados Unidos. Foi vendido em 1958, sumindo novamente e reaparecendo em um leilão, quando foi comprado junto a outras duas pinturas antigas por 10.000 dólares, em 2005.

O Salvator Mundi, que passou por um longo e complexo processo de restauração executado por Dianne Dwyer Modestini, chegou até à coleção privada do bilionário russo Dmitry Rybolovlev, que se vê ligado a um processo judicial com seu antigo agente.

A questão, no final das contas, é até que ponto o processo de restauração manteve o que há de Leonardo no quadro, pergunta a Bloomberg, em uma reportagem. A restauração removeu grande parte da poeira e do verniz da obra. Porções significativas da composição estavam faltando completamente na pintura de Leonardo. Os danos são explicados pelo transporte e pelas condições de manutenção de seus antigos donos.

“A tolerância do mercado por um da Vinci é bem diferente da tolerância por um Van Gogh”, diz um representante da casa de leilões Sotheby’s, em uma entrevista para Bloomberg. E explica o porquê: “mesmo que um Van Gogh seja raro e alguém queira pagar 81 milhões de dólares por uma grande pintura dele, há ainda muito mais gente para um da Vinci, que pintou menos de 20 quadros no mundo.”

Ou seja, era pegar ou largar. Pegaram.

Conteúdo originalmente publicado em Exame.com

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