Perereca-Onça: conheça a nova espécie descoberta na Amazônia
Encontros frequentes com onças durante trabalhos de campo e cor que lembra o maior predador da América do Sul inspiraram o nome da nova espécie de perereca
Cientistas anunciaram a descoberta de uma nova espécie de perereca caracterizada por possuir o dorso marrom claro com pontos e manchas escuras. O padrão de cores do anfíbio lembra bastante a de um outro animal muito mais famoso, a onça pintada (Panthera onca). Por conta da semelhança, a nova perereca foi batizada de Scinax onca, em referência à Onça Pintada.
Mas esse não foi o único motivo pelo qual a nova perereca recebeu o seu nome. Os autores do estudo revelam que por diversas vezes deram de frente com onças durante os trabalhos de campo que levaram à descoberta da nova espécie. A Perereca-Onça foi descoberta na região sudoeste do estado do Amazonas, na área de Floresta Amazônica localizada entre os rios Madeira e Purus, ambos afluentes do Rio Amazonas — essa é uma área onde a floresta é bastante preservada e a população de onças é grande.
O estudo com a descrição da espécie, publicado no periódico científico Zookeys, foi conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e do Museu de História Natural de Praga, na República Tcheca. Os autores do estudo revelam que a Perereca-Onça foi inicialmente reconhecida como uma espécie distinta das demais através de um detalhado estudo genético, publicado no ano passado.
Para ser reconhecida como uma espécie válida para a ciência, no entanto, os autores precisaram fazer uma descrição formal do animal, incluindo diversos detalhes da sua anatomia. Para o reconhecimento da Scinax onca, os autores forneceram, além de detalhes da anatomia dos adultos, descrições dos girinos e da vocalização dos machos.
O canto dos sapos é utilizado pelos machos para atrair fêmeas para o acasalamento (o sexo dos sapos) e cada espécie possui um canto com características exclusivas — por isso a voz dos sapos pode ser usada para ajudar na identificação de novas espécies. A larva dos sapos é uma outra boa fonte de características que podem ajudar na identificação de espécies. No caso da Perereca-Onça, o padrão de manchas arredondadas presente nos adultos é também facilmente observado nos girinos.
No mês de setembro foi publicado um relatório sobre a diversidade de espécies recentemente descobertas na Amazônia. O estudo, realizado em conjunto pelas organizações não governamentais World Wildlife Fund (WWF) e Instituto Mamirauá indicam que 371 espécies foram descobertas na Amazônia entre 2014-2015. Dentre elas, diversas espécies de anfíbios (grupo que inclui os sapos, rãs e pererecas), além de peixes, répteis, aves, mamíferos e plantas.
O mesmo relatório sugere que mais de 2000 espécies foram descritas na última década. É importante lembrar, entretanto, que o número de espécies descritas na Amazônia no período considerado no relatório é muito maior. O relatório não incluiu dados dos grupos mais diversos como insetos, aracnídeos (aranhas, escorpiões e ácaros), por exemplo.
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Para que possamos avaliar com mais precisão a riqueza de espécies de animais e de plantas na Amazônia, é preciso que mais recursos sejam empenhados para a realização de estudos de campo na região. Além disso, é preciso investir na formação de recursos humanos. A descrição de novas espécies requer um elevado nível de especialização e familiaridade com a anatomia dos animais. Tal nível de treinamento requer anos de estudo e dedicação por parte dos biólogos.
* Pedro Peloso é biólogo e estuda a diversidade de anfíbios e répteis na América do Sul. Atualmente é pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi.
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