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Menstruação: tudo que você precisa saber sobre o sangramento feminino

Menstruação (Foto: Flickr/ areta ekarafi/ Creative Commons)

 

Aos 16 anos, Carrietta White teve uma surpresa no banheiro da escola: sangue começou a escorrer pelas suas pernas e, com medo que algo de grave poderia estar acontecendo, soltou um grito. "Se refugiou no lado de um dos quatro grandes boxes de chuveiro e lentamente desmoronou, caindo sentada."

A cena é do livro 'Carrie, a estranha', de Stephen King, e se tornou uma das mais famosas do cinema, visto que a história foi adaptada para a telona duas vezes — em 1976 e 2013. A garota teve uma educação severa porque a mãe era extremamente religiosa, e Carrie foi isolada de várias coisas, como o acesso à informação sobre saúde feminina. Por isso, quando teve a menarca — primeiro fluxo menstrual de uma mulher —, ela ficou desesperada.

Mas as dúvidas, desconhecimento e apreensões relacionadas à menstruação não são exclusivos da ficção. Uma pesquisa realizada pela organização Plan International, no Reino Unido, demonstrou que uma a cada dez mulheres não se sentem confortáveis para conversar sobre o tema com as próprias amigas.

A falta de diálogo faz o assunto permanecer como tabu, e ainda cria condições para que mitos sejam mantidos. Ao longo da história, por exemplo, já foi dito que o sangue menstrual era venenoso, podendo estragar a agricultura e deixar os animais loucos. Além disso, a menstruação era considerada "imunda" e reflexo de doenças mentais.

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Por sorte, a ciência desmentiu algumas crenças e trouxe embasamento para afirmar que menstruar é algo natural. "É efeito da anatomia do corpo e acontece com toda mulher", diz Patricia Bisestre Peres, ginecologista.

“A menstruação, embora seja incômoda, é um sinal de saúde. Demonstra que os órgãos estão funcionando adequadamente”, enfatiza Erica Mantelli, ginecologista e obstetra.

O que é a menstruação?
Regra, chico, fluxo, catamênio, paquete, mênstruo, lua, menorreia, menarquia, período menstrual e menstruação são sinônimos e significam a perda de sangue pelo canal vaginal das mulheres. Geralmente acontece todo mês.

Não existe uma "maneira correta" de menstruar, sendo que o ciclo e suas reações atingem cada mulher de jeitos diferentes. Para algo ser considerado anormal, é preciso gerar desconforto social e físico. “A menstruação tem uma variação de normalidade muito grande. Há mulheres que passam um mês sem menstruar e chega a ser um ciclo normal. É importante se conhecer, saber seu ciclo, sempre buscar um ginecologista e entender o que é normal para você”, afirma Lívia Daia, ginecologista obstetra e mastologista, da Clínica Daia Venturieri.

O que acontece durante a menstruação? 
O sistema reprodutor feminino é composto de dois ovários, duas tubas uterinas, um útero, a vagina e a vulva. A partir da puberdade, o endométrio (parte interna do útero) fica mais grosso, esponjoso e vascularizado (com muito sangue), pois está "programado" para receber um embrião. "Com a ausência da fecundação há queda de hormônios e o tecido interno do útero se rompe e é perdido em forma de sangramento", explica Daia. 

Odor, textura e cor: como é a menstruação?
Marrom, vermelho escuro ou vermelho muito intenso são as variações de cores que o sangue menstrual pode apresentar. A textura pode ser bem líquida ou em coágulos.
“O odor é característico de sangue. Se tiver cheiro de algo apodrecido ou estragado pode ser algum problema”, comenta Mantelli.

O que é fluxo menstrual?
A quantidade de sangue que é eliminado durante o período menstrual representa o fluxo. Há mulheres que possuem hiperfluxo, ou seja, muito intenso, enquanto outras podem sangrar muito pouco, como gotas.

Como não há uma quantidade “ideal” da menstruação, é possível saber o tipo do fluxo observando, por exemplo, quantas vezes é necessário ir ao banheiro trocar de absorvente. “Se a mulher usa o absorvente noturno, e durante o dia o troca numa frequência maior que entre 2 e 2 horas, pode ser considerada anormal", diz Daia.

Quais recursos existem para lidar com o fluxo?
Os principais métodos para “segurar” o sangue menstrual são os absorventes externos e internos descartáveis, coletor (copinho de silicone), calcinha absorvente lavável,  absorventes de pano e protetores diários descartáveis. “Muitas pacientes usam o protetor diário todos os dias, mas isso pode aumentar o índice de corrimento na mulher. A calcinha foi feita para absorver o suor da vagina, e o ideal é usá-lo só na menstruação”, reitera Peres. 

Coletores (Foto: Flickr/ squiddles/ Creative Commons)

 

Quais cuidados tomar com os recursos de absorção?
Os absorventes externos são os mais tradicionais. Usá-los por muito tempo pode alterar o pH vaginal, causar assaduras e provocar reações alérgicas por causa dos componentes químicos que dão cheiro, por exemplo. O ideal é trocá-lo a cada três ou quatro horas.

O interno — inserido no canal vaginal — também precisa ser trocado nesse mesmo intervalo de tempo. Caso contrário, pode causar proliferação bacteriana e infecções. 

O coletor também fica no canal vaginal, mas pode ficar por mais tempo. Alguns fabricantes afirmam que é possível utilizá-lo por até 12 horas. O tempo de uso vai depender de cada mulher,  e por isso é importante entender como é seu fluxo para evitar vazamentos. “O coletor deve ser lavado em água corrente e higienizado sempre, a cada troca”, ressalta Peres.

A calcinha absorvente e os absorventes de pano também podem causar alergia. 

Quanto sangue se perde durante a menstruação?
“Isso varia bastante, a mulher não consegue fazer a quantificação, a não ser que use o coletor. Mas o mais importante é prestar atenção se há alguma alteração do padrão que a mulher apresenta", fala Mantelli.  

Exemplo de absorvente interno (Foto: Pixabay/ EME/ Creative Commons)

 

Quanto tempo dura a menstruação?
Segundo Daia, as mulheres ficam, em média, de quatro a cinco dias menstruada. Menstruar por até oito dias também é considerado normal. 

A menstruação é pausada em algum momento? 
Durante o período menstrual o sangramento acontece continuamente, seja de dia ou de noite. O sangue só para de escorrer quando o ciclo acaba. 

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De quanto em quanto tempo a menstruação ocorre?
Cada ciclo menstrual acontece numa variação média de 25 a 30 dias. "A maioria tem um intervalo de 28 dias, mas algumas têm menos e outras mais", diz Daia.

O período pode ser mais curto ou longo — e isso não representa necessariamente algum distúrbio menstrual. "É considerado problema o que está fora do comum, ou sintomas que a paciente sente que não estão legais", avisa Peres. Por isso, ela recomenda que as mulheres conheçam o próprio corpo e seu fluxo menstrual. Um dica é anotar os dias que costumam acontecer o sangramento, para, assim, saber se há algo fora do padrão. 

Útero (Foto: Flickr/ Hey Paul Studios/ Creative Commons)

 

O que é a TPM?
A sigla significa Tensão Pré-Menstrual ou Tensão Pós-Menstrual. A maioria das mulheres sente os sintomas nos dias que antecedem o sangramento. São eles: alteração no humor, aumento da ansiedade, insônia, dor de cabeça, inchaço, agitação ou até depressão. "Isso acontece por causa da queda dos hormônios progesterona e estrogênio no organismo", informa Peres.

Menstruação dói? 
A menstruação não dói, o que pode ser doído é a cólica. 

O que é a cólica?
É a contração que útero faz para eliminar o sangue. “Algumas mulheres sentem dor e outras não, depende da sensibilidade de sentir essa contração”, fala Mantelli.

Como os remédios melhoram a cólica?
Os anticoncepcionais podem ajudar a diminuir as dores pois diminui o fluxo sanguíneo da menstruação. E menos sangramento representa menos contração do útero. Já os remédios para cólica são antiespasmódicos: ou seja, evitam o espasmo do útero e isso faz a contração ser reduzida.

Quando acontece a primeira menstruação?
De acordo com Peres, o mais comum é que a menarca ocorra entre os 12 e 13 anos. O início do fluxo menstrual a partir dos 8 anos e seis meses é considerado normal, mas abaixo dessa idade pode representar puberdade precoce ou alguma doença.

O que é a menopausa?
É quando o ovário para de responder aos estímulos do próprio corpo e não há mais ciclo menstrual. É uma fase que toda mulher passa, podendo apresentar ou não sintomas como insônia, alteração da pele e cabelos, aumento de peso e sensação de muito calor.

Geralmente a menopausa acontece na faixa dos 50 anos. Caso ocorra muito cedo, na casa dos 30 anos, por exemplo, pode ser considerada precoce, trazendo riscos de osteoporose, além de eliminar a possibilidade de gestação. 

Mulher (Foto: Flickr/ $pacemilk/ Creative Commons)

 

Como deve ser feita a limpeza na região íntima durante a menstruação?
O ideal é lavar a região com água e sabão neutro. Caso não seja possível, a recomendação é usar lencinhos úmidos. “Como as entradas do ânus, vagina e uretra são muito próximos, a limpeza deve ser sempre do bumbum para fora, para não passar bactérias de um canal para o outro”, lembra Peres.

É possível escolher não menstruar?
Existem medicamentos baseados em hormônios e anticoncepcionais que podem bloquear o espessamento do endométrio — evitando o sangramento. Não há contraindicação para esse método, sendo que o mesmo é até recomendado para quem sofre com a menstruação, e para prevenir a endometriose (crescimento anormal do tecido uterino). "Os efeito indesejável da pílula é o risco de trombose [coagulação sanguínea em uma veia]", alerta Daia.

Além disso, alguns medicamentos com hormônios usados para tratar tireóide e para emagrecimento, por exemplo, também podem levar à ausência de menstruação.

A mentruação pode ocasionar alguma doença?
"Mulheres que tem hiperfluxo podem ter anemia e problemas de circulação. Também pode atrapalhar a vida sexual e gerar infecções por causa dos absorventes", informa Daia.

Pode transar menstruada?
“Isso vai depender do critério de cada pessoa, mas pode sim ter relação sexual, lembrando sempre de usar preservativo”, explica Peres.

Pode usar camisinha feminina ao transar menstruada?
O preservativo feminino se encaixa dentro do canal vaginal. Segundo Peres, é possível utilizá-lo para ter relações sexuais, mas algumas mulheres podem ficar incomodadas. Além disso, não é porque há sangramento que a camisinha vai “escapar”. 

Camisinha feminina (Foto: Anka Grzywacz/ Wikimedia Commons)

 

Como diferenciar a menstruação de sangramento de escape?
O escape é um sangramento que acontece entre um ciclo e o outro. “Na maioria das vezes o fluxo é baixo, e acontece por irregularidade menstrual ou uso de anticoncepcional”, explica Daia.

Homem transexual menstrua?
Depende. Se o rapaz estiver fazendo tratamento com hormônios, os mesmos irão bloquear a produção hormonal nos ovários ocasionando a amenorreia (ausência de fluxo menstrual). Caso não haja a ingestão de hormônios, o homem irá menstruar.

É possível engravidar menstruada?
Não, pois essa fase representa que não há óvulo pronto para receber a fecundação. 

É possível menstruar durante a gravidez?
De acordo com Peres, algumas mulheres relatam ter sangramento durante a gestação, mas  ela aponta que não há evidências científicas que comprovam ser sangue de menstruação. “Pode ser por outras causas como alterações no embrião, colo do útero ou placenta”, afirma.

A menstruação é interrompida em casos de gravidez psicológica?
O ciclo menstrual é influenciado pelo meio ambiente e saúde da mulher. Caso ela tenha algum distúrbio emocional e ocasione a gravidez psicológica, a ausência da menstruação é um dos primeiros sinais.

Como é a menstruação depois da gravidez?
“Não existe regra. As mulheres que amamentam no peito ficam mais tempo sem menstruar", informa Mantelli. Ela também esclarece que menstruar não irá deixar o leite materno mais fraco. 

A menstruação depois da gravidez volta desregulada?
O padrão antigo tende a voltar. Os primeiros meses podem ser diferentes, mas não há regras. Pode vir falhada, e a primeira vez pode ser entre 30 e 40 dias depois do parto (independente de qual tipo tenha sido). “É importante sempre fazer acompanhamento pós-parto, solicitar exames, observar seu padrão e se há cólicas", recomenda Mantelli. 

Quais recursos absorventes podem ser usados após a gravidez?
Coletor e absorvente interno só podem ser utilizados depois de 40 dias do parto, independemente de qual tipo tenha sido.

* Com supervisão de Thiago Tanji

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