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Alucinógenos podem fazer bem para você

 (Foto: Creative Commons/Photoextremist)

 

350 milhões de pessoas de todo o mundo são diagnosticadas com depressão. Um terço é resistente aos tratamentos convencionais. 35 dessas foram reunidas por pesquisadores para uma experiência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Os cientistas queriam testar algo novo. Uma substância que promete reduzir os casos de depressão de forma eficiente, mesmo nos casos mais graves e resistentes, com uma única dose. Para manter um controle, dividiram o grupo em dois. Para metade deram um placebo, para a outra administraram a dimetiltriptamina, popularmente conhecido como DMT, o princípio ativo da Ayahuasca.

São diversas as plantas que contém a substância, inclusive há indícios de que o próprio cérebro também a produz — embora a ciência ainda não saiba sua função no corpo. A mais conhecida é a Chacrona, um arbusto amazônico. Seu consumo, porém, não provoca nenhum tipo de efeito no corpo humano. Para adquirir propriedades alucinógenas, grupos indígenas da floresta descobriram que precisa ser combinada com outra planta, o cipó-mariri.

Os cientistas descobriram o motivo: o DMT é rapidamente degradado em nosso estômago devido à presença de uma substância chamada de monoamina oxidase (MAO). O cipó, porém, que inibe a ação da MAO. Assim o DMT entra na corrente sanguínea e provoca muito mais efeito que a simples loucura.

Ainda em 2012, uma pesquisa com o uso de técnicas de neuroimagem funcional já havia revelado que, mesmo quando o usuário está de olhos fechados, a substância ativa o córtex visual primário, área que tem papel fundamental para a visão, da mesma forma que ao ver uma fotografia. “Ao aumentar a intensidade das imagens lembradas ao mesmo nível da percepção visual, o Ayahuasca dá status de realidade a experiências internas”, contou na época o autor do estudo, Dráulio de Araújo, pesquisador da UFRN, à GALILEU.

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Agora, também com a participação de Araújo, avaliaram o grau de depressão dos pacientes dos dois grupos, comparando os efeitos do placebo e da ayahuasca nos dois grupos. Os resultados foram animadores. Os que ingeriram a bebida apresentaram melhoras significativas no quadro de depressão quando avaliados sete dias depois do experimento. A única reação adversa foram os vômitos — que os frequentadores do Santo Daime chamam de peia — em metade dos pacientes.

Com os resultados positivos, os pesquisadores foram mais além. Buscaram descobrir não só o efeito do DMT, mas como ele afeta as moléculas neurais. Como é difícil fazer testes detalhados em cérebros humanos vivos, utilizaram os chamados minicérebros.

Por 45 dias mantiveram duas culturas de células neurais, formando estruturas tridimensionais que imitam um cérebro em formação. Jogaram uma dose de ayahuasca em um e deixaram o outro como base de comparação. Depois buscaram alterações nas mais de 6 mil proteínas presentes no cérebro.

Encontraram alterações em 934 delas, com redução nas proteínas ligadas a inflamação, degeneração e lesão cerebral, e aumento nas que são relacionadas a mecanismos celulares de aprendizado, memória e efeitos antiinflamatórios.

Para o Dráulio Araújo, que faz pesquisas com a bebida desde 2005, apesar de positivos, os estudos ainda são insuficientes para cravar que a ayahuasca faz bem. Anos de proibição atrasaram o conhecimento de seus efeitos, com a intensificação das pesquisas somente a partir da década de 90.

“Os estudos não permitem fazer esse tipo de juízo de valor. Parece que a ayahuasca beneficia algumas pessoas”, afirma Araújo. “A ayahuasca não é um santo graal que funciona para todos. Na minha opinião, da mesma forma que a meditação não parece ser para todo mundo, assim também parece ser a ayahuasca”.

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