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Passado da Mata Atlântica é estudado na zona rural da cidade de São Paulo

Pesquisadores desejam entender como as mudanças climáticas influenciaram a diversidade de fauna e flora da Mata Atlântica (Foto: Wikimedia Commons)

 

 

O vento cortante e a garoa persistente acentuavam a sensação de frio e deixavam enlameadas as estradas de terra. Mesmo assim, um grupo de trabalhadores rurais continuava a colher dezenas de cenouras, que são colocadas em caixas e transportadas para abastecer as barracas das feiras de rua.

Elogiada pelos agricultores por sua fertilidade, a terra escura abriga plantações de verduras e outras hortaliças. Tudo isso em uma das maiores cidades do planeta: localizada no bairro de Parelheiros, no extremo sul de São Paulo, a Cratera de Colônia está a mais de 40 quilômetros distante da região central e abriga propriedades rurais e trechos intactos da Mata Atlântica.

Mais do que um local pitoresco encravado na metrópole, a Cratera de Colônia conta com características únicas para auxiliar os cientistas a analisar o passado de um dos ecossistemas mais importantes do mundo.

Liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), o trabalho de perfuração e coleta do solo da região permitirá entender as transformações vividas pela Mata Atlântica ao longo de 1 milhão de anos: será possível analisar como as mudanças climáticas impactaram na diversidade da fauna e flora do ecossistema, além de estudar microrganismos e outras particularidades naturais. 

Situada em uma depressão de 3,6 quilômetros de diâmetro e 300 metros de profundidade, a Cratera de Colônia era um grande lago há 2 milhões de anos, o que possibilitou a acumulação de sedimentos ao longo do tempo ​— nas escavações, os cientistas coletaram sedimentos assentados em até 50 metros de profundidade.

"Graças à preservação dos sedimentos, esse é um registro único das regiões tropicais: não há outro local semelhante na América Latina", afirma Marie-Pierre Ledru, do IRD, que é uma das coordenadoras do projeto. 

O estudo dos registros, que começou no início de agosto, passa por diferentes etapas. Após a perfuração, os sedimentos são coletados e dispostos em tubos de plástico, recebendo a primeira análise dos cientistas em um casebre localizado próximo ao local da extração e que faz as vezes de um laboratório improvisado.

Com a conclusão da checagem, as amostras serão levadas para o laboratório do Instituto de Geociências da USP e seguirão para diferentes centros de pesquisa — além da França, há a participação de instituições da Alemanha, Estados Unidos, Reino Unido e Suíça. A Fundação BNP Paribas é uma das apoiadoras do estudo. 

"A Mata Atlântica é uma floresta de dimensão continental, mas esse estudo também serve como subsídio para outas florestas tropicais: um dos objetivos centrais do projeto é estudar as mudanças do clima, com as alterações da quantidade de chuva e temperaturas ao longo do tempo", diz André Sawacuchi, docente do Instituto de Geociências da USP e um dos coordenadores do projeto.

"Há a importância de se entender como a Mata Atlântica reage a mudanças climáticas, realizando uma projeção para o futuro."

Presente em 17 estados brasileiros, além de Argentina e Paraguai, a Mata Atlântica foi um dos ecossistemas mais devastados pela atividade humana: de acordo com os especialistas, restam menos de 10% da cobertura vegetal original. 

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