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Projetos utilizam a cultura maker para promover transformação social

Maker (Foto: Divulgação/Olabi)

Equipamentos que fazem parte da cultura maker, como impressoras 3D e cortadoras a laser,  ficaram mais baratos nos últimos anos, mas isso não significa que eles tenham se tornado acessíveis para a maior parte da população. “Os ambientes dedicados à apropriação de tecnologias ainda seguem ocupados pelo estereótipo dos engenheiros brancos, homens, sendo um nicho que achamos pouco diverso”, afirma Gabriela Agustini, uma das criadoras do Olabi. Fundada em 2014 na cidade do Rio de Janeiro, a organização realiza projetos de empoderamento e impacto social utilizando as ferramentas do movimento maker.

Entre outras iniciativas, o Olabi realizou uma rodada de programação destinada a mulheres negras, promoveu cursos para crianças sobre investigação de genoma de frutas na comunidade do Cantagalo e ofereceu cursos de eletrônica e robótica para jovens do Complexo da Maré. “Fomos inseridos no mundo tecnológico a partir do consumo e pensamos pouco em possibilidades de criação”, diz Agustini. “E se não ampliarmos uma diversidade de pontos de vista, teremos sempre ferramentas mediadas por uma única visão do mundo.”

Mas, apesar de utilizar recursos tecnológicos na realização de projetos, a organização acredita que é necessário estimular técnicas e repertórios já usados pelas pessoas. “Aquilo que é mais novo não necessariamente será a melhor ferramenta para resolver um problema”, destaca a criadora do Olabi. Em uma oficina para modelagem de roupas, por exemplo, os coordenadores do curso mostravam como os padrões do bordado e do crochê eram semelhantes à modelagem em três dimensões. E, a partir das técnicas do crochê, apresentavam os componentes da fabricação digital.

“A tecnologia por si só não resolve os problemas: pelo contrário, ela pode produzir consequências totalmente antagônicas”, diz Agustini. “Por isso, o nosso foco é melhorar a qualidade de vida estabelecendo iniciativas para promover sistemas mais justos e diversos.”

Cultura maker sem barreiras
A inovação também é capaz de superar os limites geográficos. Localizada à margem do Rio Tapajós, na Amazônia, a cidade paraense de Santarém foi escolhida pela ONG Saúde e Alegria para a instalação do LabMocorongo, um espaço com ferramentas maker destinado aos jovens que vivem na região. A iniciativa também atende as 70 comunidades que formam a Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns — para chegar a algumas dessas localidades são necessárias horas de viagens de barco.

“O espaço tornou-se um local para a inovação cidadã: temos uma equipe voltada à área de empreendedorismo que avalia como um aplicativo ou um negócio poderá resolver os problemas da região”, ressalta Caroline Pilletti, coordenadora do projeto. O LabMocorongo também promove oficinas para estimular a cultura maker entre aqueles que ainda não conhecem o movimento  —  em um dos desafios, jovens precisam fabricar um barco movido a bateria para atravessar uma piscina.

Para superar os obstáculos de logística, os coordenadores da Saúde e Alegria planejam montar um laboratório maker no centro da reserva. “Com isso, os jovens pensariam em soluções interessantes para as comunidades com baixo custo”, diz Pilletti.

A criatividade transforma
Para a realização desses projetos, não é necessária uma estrutura repleta de recursos tecnológicos. Fabricar um hand spinner utilizando tampinhas de garrafas PET, por exemplo, foi uma das tarefas realizadas por estudantes da Escola Municipal Ary Parreiras Alm, localizada na zona sul de São Paulo.

A cultura de inovação despontou graças ao trabalho da professora Débora Garofalo, que ministra aulas de informática: em 2015, ela liderou um projeto que desafiava os alunos a utilizarem sucata para a fabricação de brinquedos. Colocar a mão na massa e coletar materiais encontrados nos arredores da escola logo superou a resistência inicial ao projeto: ao longo dos meses, estudantes do primeiro ao nono ano construíram carrinhos com rolos de papel higiênico que se movimentavam com o esvaziar de um balão, além de barquinhos movidos a pilha.

De acordo com a professora, alunos que apresentavam notas ruins e mau comportamento descobriram suas potencialidades e se engajaram nos projetos. Além disso, familiares também participaram da iniciativa, coletando as matérias-primas juntamente com as crianças e os jovens, doando ferramentas e dando ideias para a fabricação dos brinquedos.

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