Meio cisne, meio velociraptor: descoberto dinossauro ‘anfíbio’
“Colcha de retalhos” é provavelmente a expressão que mais se aproxima de definir a existência do Halszkaraptor escuilliei. Não seria para menos: seu pescoço de ganso, o bico de pato, dentes de crocodilo, garras nas patas e asas que o faziam nadar como um pinguim falam por si só. O curioso é que esse jeitão exótico não está apenas na aparência. Acredita-se que esse dinossauro “anfíbio” seja o primeiro exemplar não-aviano a se dar bem tanto no ambiente aquático quanto no terrestre.
Seu fóssil foi retirado ilegalmente do um sítio arqueológico de Ukhaa Tolgod, na Mongólia, e passou pelas mãos de colecionadores do Japão, Reino Unido e França até ser descrito em um estudo recente, publicado na revista Nature.
De tão bizarro, o time de paleontólogos demorou a se convencer sobre o caráter inédito da nova espécie – porque acharam que aquilo não podia ser um bicho só. A princípio, acreditava-se que a evidência poderia pertencer a diferentes espécies de animais, reunidas em uma única peça pela ação do tempo, mas análises a partir de microtomografia de múltiplas resoluções (um tipo muito preciso de raio-x) revelou que se tratava de um único esqueleto incrustado na rocha.
Estima-se que a espécie tenha vivido entre 71 e 75 milhões de anos atrás na região norte da Mongólia, contemplada atualmente pelo Deserto de Gobi — mas que, no passado, contava com rios e até mesmo lagos.
Era nesses ambientes aquáticos da região que o H. escuilliei buscava sua principal forma de sustento. Graças às garras afiadas que possuía nos pés, eles conseguiam caçar peixes com maior facilidade — mais ou menos como fazem as garças, em um de seus rasantes. Os dentes curvos ajudavam a segurar as presas e o pescoção, característica comum também a aves e répteis, garantia uma visão privilegiada em ambientes aquáticos — compensando seu tamanho relativamente pequeno, com menos de 1 metro.
E as semelhanças com esses dois grupos animais não param por aí: segundo o estudo, o novo dino tinha sistema neurovascular semelhante ao de crocodilos e caraterísticas como esqueleto e cauda curta que o aproxima dos pássaros atuais. Como um bom integrante do grupo dos dromeossaurídeos — portanto, parente dos velociraptors — a nova espécie também usava suas patas traseiras para correr em ambiente terrestre.
Por ironia do destino, o H. escuilliei teve pouco tempo para explorar toda a sua versatilidade em diferentes ambientes. Assim como toda a fauna do Período Cretáceo, a espécie foi para a vala há cerca de 65 milhões de anos, levando embora seus estranhos superpoderes. As combinações que deram origem ao dinossauro são exóticas, é verdade, mas seria um pecado chamá-las de “falha” da evolução. Só um pequeno momento de embriaguez, quem sabe.